Nacional Nacala: ode pelo tributo

Nacala: ode pelo tributo

Depois de afrontarmos todos os avisos de muitos maus tempos – sobretudo os riscos de cairmos pontes abaixo ao longo da Estrada Nacional Nº 1 (EN1) – eis que, sucessivamente atravessamos os rios Incomáti, Limpopo, Save, Zambeze, Licungo e Ligonha. E quarta-feira, 30 de Janeiro, acordamos sacudidos por um raio de um dia solarengo que, já às 6.00 horas da manhã, invadiu a cidade de Nampula, só amortecido pelo vento que vinha da montanha que se ergue ali ao lado e confere uma vista magnífica a mais à urbe.

Como as árvores – que morrem em pé! – já estamos, mais uma vez, com sacolas às costas e mal conseguimos descer do primeiro andar que alberga os quartos, cujos preços e ares se contradizem de forma nunca vista. Mas o cansaço devido ao percurso de mais de dois mil quilómetros – Maputo-Nampula – e escassez de tempo varreram a pretensa briga com os donos do térreo edifício encravado numa das avenidas com gente 24 horas. Decididos, e de novo ‘presos” pelos cintos do ‘Ranger’, seguimos para um lugar chamado Nacala.

Para ir à Nacala vale contemplar uma cadeia de montanhas e gente que parece ter sido domada pelo feitiço do tempo. Esta paisagem – espantosa – nos acompanha até Namialo, um lugar que, de repente, se tornou rebelde connosco. Mas o incrível é: quanto mais deixamos os cruzamentos de Monapo e da Ilha de Moçambique – que se deitam a Este, e marchamos célere para o Noroeste, sentimo-nos mais hipnotizados pelo perfume da vida e cheiro do futuro.

E não estávamos enganados: pelas frestas do “4X4” – leia-se fóbaifó – ao comando de Lemos Formiga, chefe de Divisão de Educação Fiscal na AT – perscrutamos os sinais da vida: obras de engenharia (que em breve levarão água potável à cidade), muitos edifícios novos nas duas margens da ‘avenida’ e muita gente – sempre optimista –, fazem com que Nacala, esta mítica cidade portuária sobre a qual escrevemos, nos receba de braços abertos.

Nacala: ode pelo tributo

Mas Nacala esconde uma história que se confunde com a própria mãe-natureza e com Moçambique: afinal, o seu nome original é Minguri? “ Sim é Minguri”, responde-nos a História que reza, em seus anais, que Minguri era uma espécie de uma árvore já extinta – infelizmente – do distrito e que abundava na zona costeira desta terra e servia de refúgio aos primeiros habitantes da zona.

A História tem um objectivo insuspeito: exumar o passado para sabermos que os primitivos habitantes daqui – Minguri – depararam-se com inúmeras dificuldades devido à presença de feras, sobretudo leões, leopardos. E como se não bastassem, as cobras venenosas e mosquitos também os atacavam, sem menor clemência sequer.

Perante essas diversidades – avançam os historiadores – os nativos costumavam interrogar-se: “n’nakala?”. “N’nakala” é uma expressão que em Emakua, a língua de Whampula, traduz-se em “será que vamos sobreviver?”.

E não era tudo: com a chegada dos colonos portugueses, por volta de 1914, o povo de Minguri voltou a ser assombrado pelo medo com a presença dos intrusos. Mais uma vez agredido, incessante e novamente os nativos repetiam: “n’nakala?”, daí que os portugueses passaram a denominar aquele território de Nacala.