Nacional Tráfico de pessoas “não está em declínio” e crise só o favorece

Tráfico de pessoas “não está em declínio” e crise só o favorece

Tráfico de pessoas “não está em declínio” e crise só o favorece
O tráfico de pessoas não está “em  declínio”,  aliás, “a crise económica mundial está a exacerbá-lo”, dado o aumento da “procura por mão de obra barata”, alerta a relatora especial das Nações  Unidas, citada pela Agência Lusa.

Em entrevista à agência Lusa, à margem da conferência “Diálogos Atlânticos”,  que terminou no domingo, em Rabat, Marrocos, a nigeriana Joy Ngozi Ezeilo  sublinhou que “o tráfico de seres humanos é actualmente um sério problema, que não está em declínio”, assumindo “várias formas”, desde exploração sexual  e prostituição, a trabalhos forçados e tráfico de órgãos.

“As mulheres são traficadas, as crianças são traficadas, os homens são  traficados”, recorda a relatora especial do Gabinete do Alto-Comissário  para os Direitos Humanos (OHCHR) das Nações Unidas.  A identificação, protecção e assistência às vítimas de tráfico tem sido “um falhanço enorme”, e é da responsabilidade de todos, concretiza a relatora.

“Os governos têm de fazer mais. Não podemos criminalizar as pessoas traficadas, porque elas são vítimas. Precisamos de garantir que têm acesso  a serviços apropriados, de abrigo, assistência psicológica e social, saúde  e até uma oportunidade para trabalhar”, reivindica.

Ao mesmo tempo, defende, é necessário “apoiar as vítimas no processo  de recuperação e reintegração”, assegurando que terão um “repatriamento  seguro” aos seus países de origem.

“As pessoas são traficadas por uma série de razões”, mas crescentemente  para fins laborais – “trabalho forçado, serviço doméstico, práticas de escravidão”  -, tendência alimentada pela crise económico-financeira global, “com as  empresas a quererem cortar despesas e maximizar lucros”, destaca a relatora.

Esta tendência explica igualmente uma mudança no perfil das vítimas:  as maiores vítimas continuam a ser mulheres e crianças, há  um crescente número de homens a serem traficados. “Até agora, não pensávamos nos homens como vítimas de tráfico. Os homens são traficados para companhias  de construção, pescas, agricultura e horticultura”, diz.

Joy Ngozi Ezeilo realça que “a lei é importante para criminalizar o  crime de tráfico de pessoas”, recordando que o protocolo da ONU contra esta prática foi ratificado por mais de 140 países, dentre os quais Portugal, mas reconhece que “a aplicação da lei é escassa”, defendendo, por isso,  a adopção de um “mecanismo interno” que a fortaleça.

O País