Como é que foi escolhido para ir a Roma?
Sou escolhido pelos meus colegas da Media Coop, quando acabávamos de criar o média fax, em Junho ou Julho de 1992. Fui escolhido para fazer a parte crucial das conversações de paz, que era a cobertura da parte militar do acordo.
Quanto tempo esteve em Roma?
Foram dois meses.
Como é que os dois movimentos, a delegação da Frelimo e da Renamo, conviviam? Trocavam conversas amistosas? Como é que era o dia-a-dia dos movimentos fora daquelas negociações?
Na altura em que cheguei, não vi nenhuma conversa amistosa. Cheguei na fase em que se realiza o primeiro encontro entre o Presidente Chissano e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama. Nessa fase, discutiam-se questões ligadas ao cessar-fogo, que era a parte militar do assunto. não havia tempo nem espaço para conversas amistosas. Não sei se eles tinham tempo para essa parte durante a noite ou nos bastidores. Mas suponho que não, porque, de facto, era a parte mais complicada do processo.
Como é que foram feitas as negociações e como lidou com o momento?
Bem, era um momento de grande ansiedade e medo, porque ainda havia guerra no país. Entretanto, uma parte dos moçambicanos, mais ou menos 20, composta pelos movimentos da Renamo e Frelimo, juntamente com os seus assessores, estava lá para ser ajudada pela comunidade internacional. Nessa altura, estava claro que a qualquer momento iria assinar-se o acordo.
Já tinha estado alguma vez com Afonso Dhlakama e Raul Domingos, ou foi pela primeira vez em Roma?
Um mês antes, eu tive pela primeira vez um contacto, quando o Presidente Chissano e o da Renamo se encontraram lá. Mas, depois daquela cimeira, eu tive a oportunidade de entrevistar Dhlakama e Raul Domingos, no hotel em que estavam hospedados. Durante as visitas, tinha muita expectativa, ansiedade e medo.
Ficou com medo de ver Dhlakama pela primeira vez?
Claro.
Como é que eles se vestiam?
É esse assunto que se colocava, porque nós vínhamos de Maputo e eles das matas, e todos tínhamos como destino Roma. A imagem que nos aparecia era de homens guerrilheiros, que metiam medo, porque eles estavam na guerra, do outro lado, e nós, na cidade. Quando projectámos o primeiro encontro com eles, o medo tomou conta de nós, mas, no fundo, fui descobrir um Raul Domingos muito afável, não diferente deste de hoje. Ele ficava no hotel onde estava hospedado entretido no trabalho, e à noite no lazer, mas quando fui falar com ele no primeiro dia, confesso que fiquei com medo.
Em relação a Dhlakama, ficou com mais medo ainda?
Sim. Fiquei com mais medo, apesar de ter sido depois do encontro de acordo em Agosto, e já estavam fixados os deadlines para o fim da guerra. Eu fui ter com ele mas não sabia qual seria a sua reacção. Apresentei-me como um jornalista que vinha de Maputo e não sabia como é que ele iria me tratar, mas, enfim, depois de umas anedotas, fizemos a entrevista que tínhamos programado.
A segurança de Dhlakama era muito apertada naquela altura?
A segurança de todos os intervenientes na cimeira era apertada, porque estava o presidente de Zimbabwe, Mugabe, o Presidente Chissano, o próprio Dhlakama. A mediação fez tudo para que, em termos de segurança, as coisas corressem bem. A polícia italiana estava visivelmente preocupada com a segurança e não queria que algo acontecesse a todos esses intervenientes.
Como é que viveu o dia 4 de Outubro?
No dia 4 de Outubro, eu, por acaso, já não estava lá, depois de ter estado dois meses cansativos e esgotantes. Solicitei que voltássemos, porque nem tínhamos ainda a certeza que se assinaria o acordo naquele dia. Mas acompanhei a partir de Maputo, com conhecimento de causa de lá e muita ansiedade.
O País