Sociedade Saúde Resistência aos antibióticos impõe acções de prevenção

Resistência aos antibióticos impõe acções de prevenção

A resistência de infecções aos antibióticos está a constituir-se em ameaça à saúde pública, visto que tende a aumentar, por várias razões, incluindo a falta de prevenção de novos casos. Como forma de coordenar acções de pesquisa e mitigação, um grupo de trabalho multidisciplinar está desde ontem, em Maputo, a agir no sentido de recomendar as melhores opções a serem tomadas pelo Ministério da Saúde em relação ao problema.
Resistência aos antibióticos impõe acções de prevenção
O grupo de trabalho é constituído por profissionais dos Serviços de Saúde, como sejam clínicos, académicos, pesquisadores, representantes de organizações não-governamentais que labutam na área dos antibióticos e o sector privado que faz a importação e venda.

Segundo Betuel Sigaúque, representante da Parceria Global da Luta contra a Resistência de Antibióticos, organização que apadrinhou a criação do grupo multidisciplinar, a resistência àqueles fármacos é um problema global que ameaça a saúde pública, daí a imperiosidade de mitigar os diferentes factores que podem afectar o país.

“A ideia é que possamos rever a pesquisa ao nível do país para podermos produzir recomendações ao Ministério da Saúde com base na evidência local. Muitas vezes tomamos a decisão de mudar uma certa linha de tratamento sem evidência da resistência aos antibióticos. A ideia é tentar ouvir de diferentes áreas os trabalhos que estão a ser feitos, pensar na pesquisa que se pode realizar por forma a fazer uma recomendação com base no que temos”, disse.

Questionado sobre se haverá evidências de resistência a antibióticos no país, Betuel Sigaúque, que é igualmente porta-voz deste primeiro encontro, indicou que há documentação de alguma resistência, mas a transferência desta informação para a política de saúde às vezes não acontece.

“Queremos fazer uma ponte entre investigadores e o ministério. Temos que ser realistas com as nossas limitações, com as nossas condições, no que pode ser feito ao nível da vigilância nos hospitais, no controlo das infecções e em saber o nível de resistência ao nível do consumo, o que se vende no formal ou no informal e que tipo de medicamento e a sua qualidade”, disse.

Apontam-se como principais causas de resistência as primárias, em que o humano adquire a infecção duma bactéria que já de per si era resistente resultante da exposição a medicamentos, por interrupção do tratamento porque o dinheiro não foi suficiente para comprar, mas também das próprias farmácias que podem facilitar quando conservam mal o medicamento, pondo em causa a qualidade. Outras causas são a venda sem um diagnóstico ou prescrição correcta ou ainda o uso não racional do medicamento.

 As preocupações prendem-se também com a proliferação das indústrias que podem colocar no mercado um produto que não tem o princípio activo, o que pode perigar a saúde.

“O que estamos a fazer é apenas com relação à resistência aos antibióticos. Existem outros medicamentos que podem estar pressionados, como é o caso dos usados no tratamento da malária, tuberculose e HIV/SIDA, que já tem um investimento suficiente. A área dos antibióticos é uma área geralmente negligenciada”, indicou.