O método começa a ser conhecido. Passam poucos minutos das cinco horas da manhã e a artilharia russa dispara contra posições civis já dentro do perímetro urbano da capital ucraniana.
Esta terça-feira, pelo segundo dia consecutivo foram disparados mísseis ofensivos pelas forças de Moscovo contra zonas residenciais em Kiev que causaram quatro mortos e um número indeterminado de feridos, nomeadamente nas zonas de Podilsk, a dez quilómetros do coração da cidade e junto à Estação de Metro de Lukganivska, uma área localizada apenas a quatro mil metros do centro da capital.
Dezenas de chapas voaram dos telhados e espalharam o caos pela zona de Lukganivska, onde existe um mercado e o hospital principal da polícia ucraniana. Não é claro que seria o alvo exato deste ataque. A circunstância de ter ocorrido muito cedo na manhã e da a cidade estar deserta devido ao recolher obrigatório em vigor até às 7h00 minimizou a existência de vítimas.
Em Podilsk, o impacto do míssil russo provocou incêndios em cinco apartamentos e muita destruição nas restantes. No sétimo andar morava Olga Khomenko, o marido e um casal de filhos. A casa ficou reduzida a escombros. A meio da manhã, Olga retirava a água e o negro que manchavam o apartamento sem conter a indignação. “São uns assassinos, quem faz isto não respeita a vida”, dizia com voz embargada e lágrimas de raiva a escorrer pelo rosto.
Em Hostomel, cidade a norte de Irpin onde se desenrolam violentos confrontos desde há dias, uma explosão feriu uma menina que, segundo a primeira-dama da Ucrânia, teve o braço amputado.
A ofensiva russa está a intensificar-se e o medo instalou-se entre os habitantes de Kiev. Esta terça-feira à noite, poucos dormiram na capital ucraniana. Entre a realidade e os rumores que se multiplicam todos esperavam um ataque à capital. O presidente da Câmara Municipal de Kiev, Vitali Klitschko, decretou um recolher obrigatório total entre as 20h00 desta terça-feira e as 7h00 de quinta-feira. “Hoje é um momento difícil e perigoso”, disse Klitschko, antigo campeão de boxe, numa declaração publicada na rede Telegram.