Sociedade Criminalidade Avô em julgamento por tráfico e exploração das netas

Avô em julgamento por tráfico e exploração das netas

A história começa em 2010 quando Zaqueu Mahungane, na altura residente na África do Sul, se deslocou à Inhambane, sua terra natal, onde pediu a guarda de uma das suas netas, filha de um sobrinho, Martins Mahungane. Seguiu com a menor, então com nove anos de idade, para a região de Mpumalanga, na África do Sul, supostamente para cuidar de um dos seus filhos, sob promessa de tratamento médico de vista de que a menor padecia, para além de ingresso na escola, pois não estudava.

Sem contacto com a filha desde que partira, o casal Martins Mahungane e Flora Armando viria em Setembro do mesmo ano a ver a primogénita partir também para a África do Sul, supostamente a convite do mesmo avô.

Meses depois, o casal recebeu as filhas acompanhadas de agentes da Polícia. Ficou então a saber que na residência dos avós na África do Sul a mais nova era obrigada a realizar trabalhos domésticos pesados, incluindo a limpeza dos baldes nos quais todos os membros da família faziam necessidades durante a noite.

Dados avançados em sede de julgamento indicam que a neta mais velha, que foi à África do Sul já grávida de cinco meses, foi por cinco vezes violada sexualmente por três homens no quarto da residência na qual vivia com a família, com o conhecimento e anuência do avô.

Os violadores entravam pela janela à calada da noite empunhando facas e ameaçavam as duas menores. Dois dominavam a mais velha, enquanto o terceiro a abusava sexualmente. Os “clientes” retiravam-se da residência, sem que os avôs e os quatro filhos daqueles, nos outros quartos, evitassem o crime.

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Cansadas do sofrimento, as duas menores dizem ter fugido numa madrugada até serem acolhidas num centro em Malelane, ainda em território sul-africano, de onde a 22 de Novembro de 2010 foram repatriadas para uma unidade de apoio a menores em situação difícil na Moamba, província de Maputo.

O réu nega que as netas tenham passado sevícias na sua residência e acrescentou que a mais velha é que se desviou ao ponto de ser surpreendida pela tia a manter relações sexuais em casa, numa altura em que a avó se encontrava hospitalizada. Repreendida pelo acto, a menor terá, segundo o homem contou, engendrado a estória de maus tratos para obter apoios com vista a regressar a Moçambique. A intenção dele, como disse em sede do tribunal, era trazer de volta as netas no final daquele ano.

Isidro Alberto, um dos responsáveis pelo centro de acolhimento da Moamba, disse ao tribunal que à chegada, limitaram-se a dizer que fugiam de “maus tratos”. Mas mais tarde acabaram por se abrir e indicar o que realmente tinham passado na África do Sul.

Ainda ontem, foram ouvidos os pais das duas meninas. Debilitados por doença, disseram não perceber como é que os tios chegaram ao ponto de cometer os actos descritos pelas vítimas, sendo suas netas.

O julgamento é retomado amanhã com a audição do médico legista e psicólogo que observaram as menores após o seu retorno ao país. Espera-se ainda que o Ministério Público e a defesa façam as alegações orais finais.

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