Actualmente, o Haiti enfrenta uma crise humanitária sem precedentes, com mais de 700 mil pessoas deslocadas internamente devido à crescente violência dos gangues.
Deste total, mais de metade são crianças, conforme indicado no relatório recentemente publicado pela Organização Internacional para as Migrações (OIM).
Este número alarmante representa um aumento de 22% em comparação com Junho, destacando a necessidade urgente de uma resposta humanitária contínua, como sublinhou Grégoire Goodstein, chefe da missão da OIM no Haiti, durante a apresentação do relatório.
O documento revela que, nos últimos sete meses, a violência dos gangues levou mais de 110 mil pessoas a abandonarem as suas casas, com a área de Gressier, situada a oeste da capital Port-au-Prince, a ser uma das mais afectadas.
“Apelamos à comunidade internacional para intensificar o seu apoio às populações deslocadas do Haiti e às comunidades que as acolhem, que demonstram uma resiliência notável diante de tais adversidades”, enfatizou Goodstein.
Dos deslocados internos, dois em cada três encontram abrigo em províncias, enquanto Port-au-Prince alberga cerca de um quarto dos deslocados do país. Muitas destas pessoas vivem em condições precárias, em locais superlotados, e têm acesso limitado ou nulo a serviços básicos.
A OIM alerta que as comunidades locais estão a suportar a maior parte do peso desta crise, uma vez que 83% dos deslocados estão alojados por famílias de acolhimento.
Estas famílias enfrentam “dificuldades significativas”, incluindo a escassez de alimentos, instalações de saúde sobrecarregadas e a falta de abastecimentos essenciais nos mercados locais. As infraestruturas e os serviços públicos estão sob pressão devido à escassez de alimentos, habitação adequada e à necessidade de acesso a cuidados de saúde e educação.
Um outro relatório da ONU, divulgado na segunda-feira, revelou que quase 6 mil pessoas no Haiti estão a morrer de fome e que quase metade da população, cerca de 11 milhões de pessoas, enfrenta níveis críticos de insegurança alimentar ou pior.
As Nações Unidas indicaram que o número de haitianos em situações de crise alimentar aumentou em 1,2 milhões no último ano, totalizando agora 5,4 milhões, uma situação agravada pela violência dos gangues que perturba o transporte de mercadorias e impede as pessoas de saírem de casa para adquirir alimentos.
“Esta é uma das maiores proporções de pessoas com insegurança alimentar aguda em qualquer crise no mundo”, destacou Stéphane Dujarric, porta-voz da ONU.
Além da violência, a inflação de dois dígitos tem limitado o que muitos haitianos podem comprar, com os alimentos a representarem actualmente 70% das despesas familiares. Para agravar a situação, várias áreas do Haiti ainda lutam para se recuperar do terramoto de Agosto de 2021, das secas e do furacão Matthew, que devastou o país em 2016.
Os gangues controlam actualmente cerca de 80% de Port-au-Prince e as estradas que ligam o norte e o sul do Haiti, o que impede os agricultores de entregar produtos e as organizações não governamentais de fornecer ajuda humanitária.
Desde Abril até Junho, a violência dos gangues resultou em pelo menos 1.379 mortos ou feridos, e 428 pessoas foram sequestradas. Em resposta a esta crise, o Conselho de Segurança da ONU decidiu, na última segunda-feira, prolongar a missão multinacional de apoio à polícia do Haiti, que está a ser fortemente pressionada pelos gangues, até 2 de Outubro de 2025.