Milhares de zulus reuniram-se na África do Sul, para o funeral de Mangosuthu Buthelezi, figura influente e temida naquele grupo étnico, cujo caixão entrou num estádio, coberto de pele de animal e conduzido por guerreiros em trajes tradicionais.
O fundador do partido nacionalista sul-africano Inkatha e membro da família real da tribo Zulu morreu no passado fim de semana, aos 95 anos, em casa, na província de KwaZulu-Natal, no sudeste do país.
Em Ulundi, um dos locais de nascimento da maior tribo, em termos de população, no país da África austral (11 milhões), os seus restos mortais foram colocados no centro do estádio lotado, onde o funeral de Estado começou ao meio-dia.
O Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, deverá fazer o elogio fúnebre. O seu antecessor, Jacob Zuma (2009-2018), líderes partidários e altos funcionários também marcaram presença.
Durante toda a manhã, regimentos da brigada feminina do Partido da Liberdade Inkatha (IFP) marcharam, cantando: “Ele conduziu-nos até aqui”.
Vestindo peles de leopardo, filas de guerreiros “amabutho”, tradicionalmente dedicados à proteção da família real, brandiram lanças e escudos, numa imitação da guerra.
Por todo o país, as bandeiras foram colocadas a meia haste, e desde há vários dias, filas de pessoas desfilam em volta da casa de Mangosuthu Buthelezi em orações públicas.
Inicialmente membro do partido histórico no poder, o Congresso Nacional Africano (ANC), Mangosuthu Buthelezi fundou o partido Inkatha em 1975, que liderou com mão de ferro durante mais de 40 anos.
A princípio concebido como uma organização cultural zulu, o partido rapidamente entrou numa rivalidade sangrenta com o ANC.
Nas décadas de 1980 e 1990, o IFP travou guerras territoriais com os militantes do partido de Mandela nas regiões predominantemente negras: a violência, descrita como a pior do país antes das primeiras eleições multirraciais de 1994, causou milhares de mortos.
Orador carismático apesar de uma grave gaguez, o chefe zulu questionou as estratégias anti-apartheid do ANC e considerou que Nelson Mandela, que na altura se encontrava na prisão, estava a enfraquecer as posições negras.
Mangosuthu Buthelezi foi acusado de ter posto em perigo o movimento de libertação contra o regime racista do apartheid e de ter feito o jogo do poder branco, acusação que sempre negou.
Apesar das controvérsias, Buthelezi teve uma longa carreira política, que se estendeu entre o apartheid e o advento da democracia.