Os trabalhadores da Sementes de Moçambique (SEMOC), em Manica, estão em greve silenciosa, em causa está o não pagamento de salários há um ano e seis meses, os trabalhadores da SEMOC dizem não ter condições de colocar pão na mesa, bem como não conseguem atender outras necessidades das suas famílias. A situação levou à paralisação das atividades desde finais de março.
Falando à DW, na condição de anonimato, um dos trabalhadores lamenta a situação e diz que está a viver da ajuda de amigos.
“Eu sou trabalhador da SEMOC, estamos há 18 meses sem salários. Na minha casa já acabei de vender mobílias, meus filhos já não têm uniforme [escolar], e estou a viver de ajuda. O chefe [da SEMOC] ameaça as pessoas dizendo que quem despoletar o caso poderá perder emprego e direitos. Nossos colegas saíram sem nada e já estão fora do emprego”, relata o funcionário.
Outro trabalhador grevista, que também fala sob anonimato, afirma que a situação já tem barbas brancas, e nenhuma palha se mexe quando o assunto chega aos ouvidos dos gestores da empresa.
“Então como podemos fazer para sobreviver e a comer o quê? Para nós trabalharmos, para irmos ao serviço, é preciso comer. O dia a dia aqui na cidade requer dinheiro. Então havemos de comprar com o que se não estamos a auferir nossos salários”, questiona o trabalhador desesperado.
Os funcionários da SEMOC dizem ainda que já não consomem água canalizada e energia elétrica em casa, porque as empresas fornecedoras cortaram esses serviços nas suas residências por falta de pagamento das taxas mensais.
Gonçalves Canivete, representante da Sementes de Moçambique em Manica, reconhece a ausência de salários, mas que a empresa está a envidar “esforços no sentido de que a breve trecho se possa resolver” o problema.
Canivete diz, porém, que a empresa não está contemplada no Orçamento Geral do Estado, o que dificulta a obtenção de recursos.
“Na verdade está-se a receber sem se fazer nada, o que existe é que o trabalhador deve receber e nós não estamos contemplados pelo Orçamento Geral do Estado. Nós recebemos a partir da nossa própria produção, então não havendo produção é natural que não haja pagamentos. Nós estamos a sensivelmente 4 ou 5 anos que não estamos a produzir”, afirma o representante da SEMOC em Manica.
Procurado pela DW, o delegado provincial da Inspeção de Trabalho em Manica, Eusébio Mateus, disse não ter o conhecimento da falta de salários há 18 meses dos trabalhadores da SEMOC, mas prometeu procurar meios de dirimir o conflito instalado naquela firma que se dedica à produção de sementes melhoradas no país.