Politica Analistas dizem que desistências podem fragilizar a autoproclamada Junta Militar da Renamo

Analistas dizem que desistências podem fragilizar a autoproclamada Junta Militar da Renamo

Analistas moçambicanos consideram que a onda de desistências de guerrilheiros da autoproclamada Junta Militar da Renamo para beneficiar do processo de Desmobilização, Desarmamento e Reintegração (DDR) social, poderá fragilizar o grupo liderado por Mariano Nhongo, mas não será suficiente para travar focos de ataques em aldeias e estradas do centro do país.

No início de Julho a Renamo anunciou que 11 guerrilheiros aliados de Mariano Nhongo tinham abandonado a autoproclamada Junta Militar para integrar o DDR em Muxúnguè, que culminou com o encerramento da base de Mangomonhe.

Já em meados de Julho o secretário-geral da Renamo anunciou a saída da junta Militar de outros seis guerrilheiros, e a integração no DDR do chefe do estado-maior general da Renamo e o médico particular do falecido líder Afonso Dhlakama, duas figuras que Mariano Nhongo alegava estarem aprisionadas nas bases, por se simpatizarem com a junta.

O anúncio recente da desistência de João Machava, tido como o número dois do grupo e líder de ex-guerrilheiros no sul do país, aguçou as especulações sobre as capacidades e a sustentabilidade da autoproclamada Junta Militar da Renamo.

Nhongo desdramatiza tudo

Em declarações à VOA, nesta quarta-feira, 22, Mariano Nhongo, desdramatizou as desistências no grupo, insistindo que o projecto está a ser abraçado por guerrilheiros.

“Nós enviávamos 53 mil meticais (cerca de USD 745) para sustentar os homens nas bases com (João) Machava, mas sempre que exigíamos serviço ele não fazia. Então paramos de enviar durante quatro meses, e quando ele voltou a pedir enviamos 40 mil meticais (cerca de USD 560), e foi o que lhe fez desistir” explicou à VOA Mariano Nhongo.

“Esses que estão a sair nunca foram da (autoproclamada) Junta Militar, são traidores” disse, assinalando que tem engrossado as suas fileiras com mais guerrilheiros que chegam às suas bases.

Não é o fim do grupo

Contudo, analistas moçambicanos consideram que as desistências podem fragilizar o grupo, e a tensão interna também pode aumentar os riscos de ataques as aldeias do interior e estradas do centro de Moçambique.

Para Sansão Nhancale, “as desistências vão quebrar a consistência do grupo revoltoso e elevar as desconfianças entre os filiados”, mas “isso não pode ser considerado o fim do grupo, pela sua génese de guerrilha”.

O especialistas em política Martinho Marcos considera normais as desistências em movimentos recém-criados, mas alerta para “os riscos da tensão interna se refletir em novos ataques e retaliações contra os novos dissidentes”.

A autoproclamada Junta Militar da Renamo, criado em 2019, reivindica o afastamento de Ossufo Momade na liderança da Renamo, e uma desmobilização com dignidade e integração justa nas forças de defesa e segurança e na sociedade.