Sociedade Deslocados dos ataques terroristas em Cabo Delgado vulneráveis à COVID-19

Deslocados dos ataques terroristas em Cabo Delgado vulneráveis à COVID-19

A maior parte das pessoas que fugiram das suas zonas de origem, devido aos ataques terroristas em Cado Delgado, correm o risco de contrair o novo Coronavírus, por conta das precárias condições de acomodação.

São crianças e mulheres, mas  existe um número considerável de idosos, um grupo na lista da população  vulnerável à contaminação com o novo Coronavírus, que no país já infectou 609 pessoas, das quais 195 em Cabo Delgado.

Segundo apurou “O País”, algumas famílias dormem ao relento, expostas ao rigoroso inverno sem cobertores. Outras passam as noites em lugares confinados, pouco arejados e que não permitem o distanciamento físico ou social mínimo recomendado pelas autoridades de saúde.

“Dormimos no chão e ao relento com as crianças porque a casa onde fomos acolhidos é pequena. Não temos esteiras nem cobertores para nos protegermos do frio”, contou Fifa Abdala, uma deslocada do distrito de Quissanga  e agora acolhida por familiares num dos subúrbios da baía de Pemba, a capital de Cabo Delgado.

Este  problema acontece em quase toda a província, mas é persistente no distrito de Metuge, onde foram acolhidos cerca de sete mil deslocados que vivem em tendas instaladas em  três centros de acomodação.

“Quando chegamos [no centro de acomodação] recebemos uma tenda com cerca de cinco metros de comprimento e três de largura, para minha família composta por 10 pessoas, sendo dois adultos,  eu e meu marido, três jovens, meus filhos, e cinco crianças, meus netos”, revelou Inês Namueque, uma das milhares de deslocadas que vive num dos  centros de acomodação há cerca de dois meses.

Além do desconforto, devido à exiguidade de espaço que chega a tirar a privacidade entre as famílias, e o risco iminente de eclosão de  doenças, os deslocados estão passar situações  de fome, por causa da insuficiência de alimentos,  que têm sido distribuídos no âmbito da ajuda humanitária.

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“Desde que chegamos estamos a sofrer de fome, especialmente as crianças que não aguentam uma refeição disponível por dia, e acabam pedindo aos vizinhos daqui do centro de acomodação”, queixou-se Inês Namueque.
A situação é considerada crítica e insuportável para muitos deslocados que podem ajuda em alimento, roupa e abrigo condigno.

“Pedimos ao Governo para nos ajudar com comida, mais tendas, mantas e esteiras”, apelou Arussi Girinhoca, um deslocado da aldeia Napuda, no distrito de Quissanga.

O governo do distrito de Metuge tem conhecimento e a noção das dificuldades que os deslocados dos ataques terroristas enfrentam, incluindo o risco de eclosão de doenças nos centros de acomodação e nas casas onde foram acolhidas pelas famílias. Mas não possui capacidade financeira e material para minimizar o sofrimento das vítimas.

“Precisamos de cerca de seis mil tendas para minimizar o problema de acomodação dos deslocados que recebemos na sede do distrito e já informamos ao governo provincial sobre algumas necessidade que ultrapassam as capacidades locais”,  revelou  António Nandanga, o administrador de Metuge.

Entretanto,  devido à gravidade da situação, o governo já está a mobilizar tendas e disse que o problema que necessita de uma intervenção urgente, foi encaminhado ao Instituo Nacional de Gestão de Calamidades (INGC).

“Neste momento estamos a providenciar, a partir do INGC, mais tendas de modo a respeitar-se as medidas de prevenção da COVID-19 e proteger os deslocados. Mas devido a algumas dificuldades, este assunto precisa de intervenção e ajuda de todos”, considerou a chefe dos Serviços Sociais ao nível da província de Cabo Delgado.