Internacional Conselheiro político do Governo britânico demite-se após acusações de racismo

Conselheiro político do Governo britânico demite-se após acusações de racismo

Andrew Sabisky defendeu a eugenia mas considera que os meios de comunicação social são “histéricos” e espera que as “quotas selectivas” acabem.

O Governo de Boris Johnson ainda não se demarcou totalmente da visão racista expressa por um dos seus assessores mas as inúmeras outras vozes que denunciaram o caso forçaram Sabisky a demitir-se.

Esta segunda-feira começou, como todas as outras começam para uma boa parte dos jornalistas de política britânicos, com uma reunião com o porta-voz do primeiro-ministro. Só que esta segunda-feira os jornalistas começaram todos pela mesma pergunta: queriam saber se Boris Johnson sabia e se condenava, ou não, as posições racistas expressas em várias publicações nas redes sociais por um dos conselheiros políticos do governo, Andrew Sabisky, que defendeu, entre outras coisas, “a contracepção forçada” para impedir “o estabelecimento de raças inferiores”. O Governo não quis falar do assunto mas o próprio Sabisky demitiu-se esta tarde, no seguimento de críticas quase generalizadas entre os políticos britânicos.

Sem admitir culpa e sem um pedido de desculpas, Sabisky responsabilizou os meios de comunicação social por irem desenterrar as suas afirmações. “A histeria que algumas das minhas declarações antigas gerou entre os meios de comunicação social é uma loucura mas eu quero ajudar o Governo, não ser uma distração. Desta forma, decidi demitir-me da minha função. Espero que o número 10 [de Downing Street, sede do Governo] contrate mais pessoas com bom pensamento geopolítico e que os media aprendam a dizer não às quotas seletivas”, escreveu Sabisky no Twitter acrescentando que se inscreveu para “fazer trabalho a sério” e não para ser “alvo de um assassinato de carácter”.

Além de defender a contracepção forçada, Sabisky escreveu textos, um deles publicado no blogue de Dominic Cummings, o assessor político com mais peso no gabinete de Johnson e o homem que hoje em dia é descrito como o arquiteto de toda a estratégia do campo eurocético durante a campanha para o referendo do Brexit, onde tentou provar que o quociente de inteligência da população negra é, em alguns casos, tão baixa que essas pessoas podem ser consideradas “portadoras de um atraso mental moderado”. O raciocínio completo – e cientificamente errado – é este: “Se o quociente de inteligência médio de um negro americano está à volta dos 85, em comparação com o de um americano branco, que é de 100, facilmente vemos que há uma maior percentagem de negros do que de brancos na faixa dos 75 ou abaixo, um número que nos situa perto de uma situação de atraso mental moderado. Acho que os criminosos com quocientes de inteligência abaixo de 70 não são executados nos Estados Unidos”.

Caroline Nokes, a presidente do comité de mulheres e igualdade foi a primeira voz conservadora a criticar o governo: “Não posso acreditar que o Governo se recusou a comentar o caso de Andrew Sabisky. Eu não o conseguiria distinguir de uma barra de sabão mas acho que não nos daríamos bem. Não deve haver lugar no governo para as opiniões que ele expressou”, disse Nokes, uma entre muitas que durante o dia pediram a demissão de Sabisky.