Internacional Mnangagwa vai liderar governo de transição no Zimbabwe

Mnangagwa vai liderar governo de transição no Zimbabwe

Depois de o Exército zimbabweano manter o  Presidente Robert Mugabe e sua família sob prisão domiciliária e circularem especulações de golpe de Estado, abriu-se espaço para negociações.

Mugabe pode assinar com os militares, um acordo através do qual abandona o poder no Zimbabwe, tal como escreveu o jornal o Expresso.

Segundo a imprensa internacional o acordo foi proposto pelos militares, representantes do partido ZANU-PF e membros da oposição, em que o antigo vice-Presidente Emmerson Mnangagwa deverá liderar um Governo de transição. O novo Executivo incluirá membros da oposição e veteranos de guerra.

Trata-se de um Governo interino que liderará os destinos de Zimbabwe durante três a cinco anos.

O destituído vice-Presidente do Zimbabwe, encontra-se desde quarta-feira na base da força aérea zimbabweana de Manyame, arredores de Harare, a capital, para tomar o controlo do Governo deste país da região austral da África, onde a situação continua incerta.

Já o presidente do Movimento para a Mudança Democrática (MDC), Morgan Tsvangirai e o líder dos veteranos de guerra, Christopher Mutsvangwa, que se encontravam na África do Sul, voltaram para o Zimbabwe na quarta-feira para participar nas negociações.

Ainda segundo o acordo, uma das prioridades do Governo de transição será restaurar a economia que experimentou declínio nos últimos tempos.

Ontem foi criada uma página do Governo zimbabweano no Twitter. Na mesma página pode se ler que Emmerson Mnangagwa vai tomar posse hoje e que Robert Mugabe está bem de saúde e confirma a sua demissão e a criação de um Governo interino.
Segundo a comunicação Mugabe está retido numa residência presidencial fora de Harare e que a sua esposa Grace Mugabe encontra-se na Embaixada do Zimbabwe na Namíbia. África do Sul, Namíbia e Angola terão segundo esta página oferecido asilo a Robert Mugabe.

Entretanto as negociações prevêm que Robert Mugabe pode se manter no Zimbabwe se quiser com a garantia de segurança e assistência do Estado que poderá continuar a reconhecê-lo como antigo Presidente da República e Herói Nacional.

Entretanto, a  situação do Zimbabwe ficou ontem mais clarificada depois de na noite de quarta-feira os militares terem reforçado as suas posições em toda a cidade de Harare, com especial incidência para as ruas que dão acesso à residência oficial do Presidente Mugabe e de ter detido alguns dos seus principais ministros.

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O canal televisivo sul-africano  News24 noticiou que ontem à tarde seria anunciada a renúncia de Robert Mugabe e que o Exército mantém a família presidencial e a sua guarda sob custódia, depois de soldados bloquearem o acesso a edifícios do Governo na capital do país, Harare, como o Mwenemutapa, que abriga o escritório do Chefe de Estado, o Parlamento e o Supremo Tribunal.

De acordo com jornal zimbabweano “NewsDay”, o líder da Juventude da ZANU-PF e o número dois dos serviços de inteligência foram detidos. Outras informações dão conta de que o director da Polícia também pode ter sido preso pelos militares.
O porta-voz dos militares pediu a todos os “veteranos de guerra” da luta de libertação do Zimbabwe para a assegurarem a paz, a estabilidade e a unidade. E pediu  as forças de segurança a cooperarem para o bem do país.

Sara Rich Dorman, pesquisadora especializada na História política do Zimbabwe, afirmou à UOL que esta acção militar “é um tipo peculiar de golpe, com um padrão diferente, que não vimos em outros lugares” e que se tiver êxito, pode  ser exportado e intervenções do género podem acontecer noutros países do continente.

Este modelo de intervenção pode ser atraente para outros países em que a maioria das disputas acontece dentro dos partidos dominantes. Nunca tínhamos visto os militares a agir de forma aberta assim em questões deste tipo. Agora que isso se tornou possível, abre-se a possibilidade de trajectórias semelhantes em outros lugares. Não daria para ver claramente onde, mas é uma nova forma de jogar a política africana, e, se der certo, as pessoas podem tentar repetir”, alertou.

 Em vez de derrubar o governante e o grupo do poder, os militares parecem querer assumir o Governo dizendo que o estão a defender.

Dada a posição de Robert Mugabe e esta tradição, parecia improvável que alguém o tentasse derrubar. Daí o que estamos a ver, uma intervenção militar que aparentemente não o tirou do poder. Assim, eles conseguem assumir o Governo sem precisar de romper de forma tão definitiva com o sistema. Fizeram um golpe em defesa do partido que está no poder. É um modelo diferente de golpe”, disse Sara Rich Dorman.

Diário de Moçambique