Pelo menos três jovens do distrito de Macia (Bilene) foram burlados por um grupo constituído por um suposto instrutor da Escola de Formação Básica da Polícia de Matalana, Sérgio Inguane, com provável envolvimento de dois irmãos de apelido Nhabanga, um dos quais professor da Escola Primária de Loane, no posto administrativo de Chissano.
As vítimas chegaram a ser orientadas a viajar até Matalana, com uma passagem pelo Comando-Geral da Polícia, onde alegadamente estaria um agente à sua espera para o local de instrução.
Ao todo, pagaram não menos de 115 mil meticais ao trio, com a expectativa de facilidades de ingresso na escola de formação básica da Polícia, sem que se sujeitassem à inspecção e exames de selecção a que todos os candidatos são submetidos.
Os valores cobrados a cada um dos três burlados (sublinhe-se, três vítimas até o momento) não eram uniformes. Tudo dependia da aparente condição social e económica, mas variavam de nove mil à 50 mil meticais.
O “Diário de Moçambique” soube dos contornos da trapaça na vila da Macia, onde entrevistou as três pessoas lesadas, Alexa Mathe, Teodora Mathe e Alex Checo, bem com seus parentes.
“O meu nome é Alexa Mathe, de 25 anos de idade. Sou natural de Chibuto. No mês de Março deste ano, recebi um telefonema do senhor Gildo S. Nhabanga, professor na Escola Primária de Loane, posto administrativo de Chissano, actual distrito do Limpopo. Ele sugeriu-me que fosse a Matalana fazer treinos para posterior emprego, mas, em troca, eu devia pagar 50 mil meticais. Concordei com o desafio, tendo em conta que até este momento estou desempregada e preciso de alguma ocupação/ formação, para garantir algum emprego na minha vida. O que me fez confiar no professor Nhabanga é que eu e ele temos um amigo em comum. Assim, não houve margem para desconfiar da sua pessoa. Marcou o local de encontro para o pagamento de 25 mil meticais, correspondentes a metade do valor necessário. Mas, antes, sugeri que lhe entregasse os meus documentos, que também constavam das exigências, mas na hora exacta ele recusou-se a receber os documentos e disse para aguardar, porque o processo seria tramitado a posterior”, contou Alexa Mathe.
Disse que, passados alguns dias, o mesmo indivíduo, Gildo Silvano Nhabanga, exigiu o desembolso de mais 25 mil meticais, facto que começou a levantar suspeitas no seio da família Mathe, mais precisamente do pai, Salomão, que se socorria da pensão de reforma resultante de longos anos de trabalho nas minas da África do Sul, a fim de ajudar a filha a arranjar emprego.
“Eu próprio fui ter com o tal professor. Pedi explicação sobre o caso, se era, de facto, um assunto sério ou burla, porque os tempos são outros, sobretudo agora que os moçambicanos se debatem com uma crise sem precedentes. O professor disse-me que para ter a certeza devia ir ter com a pessoa que trata do assunto em Maputo. Passou-me todos os contactos e a identidade. Quando cheguei à capital do país, reuni-me com a pessoa [presumivelmente Sérgio Inguane] e entreguei-lhe 25 mil meticais. Isso tudo aconteceu à luz do dia e foi dinheiro vivo”, explicou Salomão Mathe.
Diário de Moçambique