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Tribunal condena pai que deu filha de 12 anos para pagar dívida de 600 meticais

O Tribunal Judicial Provincial de Manica, condenou a 19 anos de prisão um homem que deu a filha de 12 anos para pagar uma dívida de 600 meticais em bebidas alcoólicas.

O juiz condenou à mesma pena o comerciante de 45 anos, Alberto Malote, que aceitou a menor.

A rapariga viu-se transformada em esposa à força de um comerciante, mas foi resgatada por uma organização não governamental que continua a cuidar dela.

A sentença foi proferida a 18 de Abril, mas foi relatada à Lusa pela ONG Levanta Mulher e Siga o seu Caminho (Lemusica), que pretende fazer da história um exemplo na luta contra o casamento forçado.

A história aconteceu depois de o pai, Augusto Vasco, se ter mostrado incapaz de pagar uma divida de 600 meticais – cerca de oito euros – pelo que bebeu durante vários meses.

Ao ter conhecimento do caso, a organização não governamental Levanta Mulher e Siga o seu Caminho (Lemusica) avançou com um processo em tribunal.

“Nós avançámos e resgatámos com sucesso a menina que se tinha tornado mulher do comerciante”, disse à Lusa, Cecília Ernesto, dirigente da ONG.

A sentença prevê ainda a atribuição de uma indemnização de 30 mil meticais à vitima.

Este é um dos 105 casos de regastes de raparigas menores que aquela organização feminina já fez em cinco distritos da província de Manica, nos últimos 15 meses.

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Em 2016, cem casos de casamentos prematuros foram denunciados através de nove clubes de rapariga, que funcionam nas escolas e nas comunidades, criados no âmbito de uma campanha que pretende reduzir o índice de abuso sexual de menores e casamentos prematuros.

Dos cem casos de 2016, os membros da organização conseguiram resgatar 80 menores e 20 mudaram de residência antes de chegarem junto delas.

Em Moçambique, metade das mulheres com idades entre os 20 e 24 anos de idade casaram-se quando eram menores – 14% das quais antes dos 15 anos, segundo dados do UNICEF, que em conjunto com o governo lançou uma estratégia nacional de Prevenção e Combate aos Casamentos Prematuros, para vigorar até 2019.

No entanto, as campanha de sensibilização enfrentam obstáculos.

O lobolo, um ritual tradicional que vigora um pouco por todo o país onde um dote, em dinheiro ou noutro valor, se oferece à família da rapariga em troca do matrimónio, tem emperrado as denúncias de casos de violação sexual de menores e casamentos prematuros em Manica.

Nós continuamos a apelar à sociedade para garantir o futuro das raparigas e para não as entregar em casamento“, concluiu Cecília Ernesto.

AIM