Destaque Adriano Maleiane diz que empresas têm activos para pagar dívidas escondidas

Adriano Maleiane diz que empresas têm activos para pagar dívidas escondidas

O ministro da Economia e Finanças de Moçambique manifestou confiança de que não será preciso executar as garantias do Governo aos empréstimos não declarados a empresas estatais e disse que estas têm activos para pagar as suas dívidas.

Essas empresas têm património. Se não conseguem pagar por razões que possam explicar, temos muitas alternativas e a primeira é pegar nos seus activos e vendê-los“, afirmou Adriano Maleiane no parlamento, que hoje procedeu à aprovação final do Orçamento do Estado rectificativo, com votos a favor da maioria da Frelimo e contra das bancadas da oposição.

Maleiane disse, contudo, estar convencido de que “as empresas vão encontrar as melhores soluções com os seus financiadores para não se chegar a essa situação“.

O ministro da Economia e Finanças reiterou que o orçamento rectificativo não prevê o pagamento das dívidas de 1,4 mil milhões de dólares (cerca de 94,58 mil milhões de meticais) garantidas pelo Governo, entre 2013 e 2014, a favor da Mozambique Asset Management (MAM) e Proindicus, à revelia do parlamento e dos doadores internacionais.

A nova lei orçamental autoriza porém o Governo “a usar os recursos adicionais e/ou extraordinários para acorrer a despesas de investimento, redução da dívida e situações de emergência”.

O documento autoriza igualmente o Governo a emitir garantias e avales, no montante máximo de 26,1 mil milhões de meticais.

Após a revelação das dívidas ocultas, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e os doadores do Orçamento do Estado suspenderam os seus apoios.

Este caso sucede-se ao escândalo da Empresa Moçambicana de Atum (Ematum), outra companhia de capitais estatais financiada, em 2013, com empréstimos garantidos e não declarados pelo Governo para a aquisição de uma frota atuneira e navios-patrulha.

Uma vez descoberta, a dívida da Ematum foi inscrita nas contas do Estado em 2014.

A dívida pública de Moçambique é agora de 11,66 mil milhões de dólares (787,74 mil milhões de meticais), dos quais 9,89 mil milhões de dólares (668,16 mil milhões de meticais) são dívida externa.

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Este valor representa mais de 70% do Produto Interno Bruto e traduz uma escalada de endividamento desde 2012, quando se fixava em 42%.

Uma das empresas beneficiadas pelos empréstimos, a MAM, falhou em maio a primeira prestação de 178 milhões de dólares (12.025 milhões de meticais), estando a decorrer conversações com os credores para a renegociação da dívida.

O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, condicionou no domingo a recomendação do FMI de uma auditoria externa à dívida pública aos resultados das averiguações da Procuradoria-Geral República e do parlamento.

O parlamento já tratou desta matéria e, neste momento, a Procuradoria-Geral da República também está a trabalhar sobre o assunto. Estes dois órgãos são soberanos neste país“, declarou Nyusi no final de uma visita de trabalho à província da Zambézia.

O FMI defendeu, no final de Junho, uma auditoria internacional e independente às empresas moçambicanas que beneficiaram dos empréstimos avalizados pelo Governo.

Mas Filipe Nyusi afirmou que é preciso esperar pelo resultado das averiguações das instituições moçambicanas antes de ser tomada qualquer outra decisão.

Em Julho, a Procuradoria-Geral da República admitiu a existência de ilícito criminal nas dívidas não declaradas, assegurando que iria solicitar a intervenção de peritos internacionais para a investigação do caso.

O Governo moçambicano declarou em várias ocasiões que espera que as empresas que beneficiaram dos empréstimos, em parte destinados à aquisição de equipamento de defesa, paguem parte das dívidas e que o Estado só irá assumir o que for de interesse público.

O caso das dívidas não declaradas levou ainda à descida do ‘rating’ de Moçambique nas principais agências de notação financeira.

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