Destaque Estudo descarta uso do bílis de crocodilo no phombe

Estudo descarta uso do bílis de crocodilo no phombe

Volvido quase um mês após a tragédia de Chitima, que levou a internamento de 177 pessoas nas unidades sanitárias desta região, das quais 75 perderam a vida,  as autoridades moçambicanas já têm em curso um estudo que indica que  a intoxicação da bebida alcoólica “phombe” não foi causada pelo bílis de crocodilo.

Segundo um estudo efectuado pela Universidade do Limpopo, na República da África de Sul, citado pela AIM, o relatório do mesmo estudo anula a possibilidade da bílis de crocodilo ser a causa da intoxicação. Esta pesquisa, dirigida pelo farmacologista clínico da Universidade do Limpopo, Norman Nyazema, é tornada pública quando ainda estão a decorrer análises laboratoriais substanciais visando confirmar ou desmentir as hipóteses de uma presumível intoxicação daquela bebida.

Do mesmo relatório, consta que os estudos da Universidade do Limpopo desmentem essa teoria da intoxicação  através do uso do bílis de crocodilo, porquanto o conteúdo em questão não passa de um veneno mítico entre as comunidades nativas.

Segundo o farmacologista clínico, Norman Nyazema, a bílis de crocodilo não é uma substância tóxica e contém, por sinal, os mesmos ácidos biliares semelhantes aos que usam os seres humanos para a digestão.

Na óptica de Nyazema, o veneno que causou a morte das pessoas que consumiram a bebida naquela tarde pode ser uma erva regional que continha glicosídeos cardíacos. Essas drogas que ocorrem naturalmente, como a digoxina, usadas terapeuticamente para controlar a insuficiência cardíaca congestiva, mas potencialmente letais em várias doses e mais elevadas.

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O cientista que descobriu a verdade sobre a bílis de crocodilo sustenta ainda a hipótese de o veneno usado ter sido um dos vários e baratos existentes, a nível local, como é o caso dos organofosfatos usados para o controlo de pragas na agricultura.

O desafio analítico agora, volvidas três semanas após a tragédia, é que os organofosfatos podem sofrer uma hidrólise e se decompor em outros componentes, assim como ligar-se a outras proteínas tanto na bebida, bem como nos fluidos biológicos.

A detecção de tais produtos constitui, segundo Nyazema, um desafio, mas não é impossível mercê do acesso à cromatografia e às técnicas especializadas de espectrometria de massa.

A capacidade técnica laboratorial dos serviços nacionais de saúde pública não está equipada de meios para este nível de detalhe. Mais ainda, a identidade dos laboratórios no exterior, aonde foram enviadas as amostras também não foi revelada, porém há uma enorme expectativa sobre os resultados nas próximas semanas.

Referir que  a mulher que confeccionou  a bebida fermentada e de fabrico caseiro, que naquela noite do dia 9 de Janeiro tirou a vida de pouco mais de 70 pessoas, também foi uma das vítimas mortais, daí que a polícia não teve um ponto de partida para as investigações, optando pelo apoio do MISAU, que por sua vez recolheu algumas amostras para análises laboratoriais na Diáspora.