A população da comunidade de Munene, Posto Administrativo de Chuala-Honde, no distrito de Báruè, província de Manica, acusa o Grupo Portucel, líder europeu no sector de papéis finos de impressão e escrita não revestidos, de usurpar machambas para a plantação de eucaliptos.
Segundo os camponeses, o “padrinho” desta usurpação é o actual presidente do município de Catandica, Tomé Maibeque, na altura, chefe do Posto Administrava de Chuala-Honde. Na comunidade, comenta-se que a ascensão ao cargo de edil é um prémio a Maibeque por ter ajudado a implantar este projecto, com alguma protecção desde o Governo provincial até ao central.
A acusação foi feita à margem da 1ª Conferência Nacional dos Paralegais, realizada há dias na cidade de Maputo e coordenada pelo Centro Terra Viva, uma ONG de defesa de meio ambiente e boa governação.
Rudo Pita, paralegal no distrito de Báruè, disse ao Canalmoz que é dramático o que está a acontecer naquele local. Camponeses perdem suas machambas sem nenhuma explicação.
Pita disse que quando se implantou o projecto de plantação de eucaliptos, dizia-se que o mesmo teria benefício para as comunidades. Mas, na prática, nada se vê.
Passado algum tempo, descobriu-se que não passava de uma burla. “As estruturas administrativas vieram ensinar as comunidades que todo o investimento é bem-vindo. Até foi propalado que os investimentos vinham agradecer o sentido de voto responsável, mostrado por aquelas comunidades ao partido no poder”, disse.
As comunidades, ainda segundo Pita, foram enganadas. Quando a população revoltou-se, o chefe do posto trouxe agentes da Polícia para espancar os agricultores que queriam queimar as máquinas e arrancar os eucaliptos. Hoje ele já é edil.
“Neste negócio está metido um ex-chefe do posto administrativo e o administrador. Antes de plantação de eucaliptos, a população produzia alimentos para o seu auto-sustento”, disse.
SDAE indiferente
Indiferentes com a situação, os camponeses redigiram uma carta aos Serviços Distritais das Actividades Económicas (SDAE) de Báruè, mas até hoje não há resposta.
Amélia Cândido, também paralegal de Báruè, disse que as estruturas administrativas falsificaram assinaturas alegando que camponeses iriam ter emprego.
“Não houve consulta. A população fez uma carta para Agricultura mas até aqui não há resposta. A empresa foi informada para parar de trabalhar. Fomos explicar à população que qualquer investimento deve ser alvo de consulta”, disse.
Afirmou que a maior parte das machambas foram usurpadas. Disse que há uma residência no meio dos eucaliptos cujo dono recusou-se a sair.
“Muitos camponeses perderam casas e machambas sem indemnização. Os eucaliptos ainda são pequenos ”, disse.