O recurso às redes mosquiteiras para a prática da actividade piscatória na costa da província setentrional de Nampula, uma técnica usada por cerca de 60 mil pescadores (o correspondente a 80 por cento dos 75 mil pescadores actualmente registados), está a contribuir para a redução dos volumes de pescado.
Segundo dados avançados pelo Instituto de Investigação Pesqueira (IIPE), da Direcção das Pescas, no ano preste a findar as estimativas apontavam para um volume de produção na ordem de 37 mil toneladas de pescado diverso, contudo o último levantamento estatístico realizado em Setembro apontava para a captura de 27 mil toneladas de pescado.
Embora não tenhamos ainda feito as contas relativas aos últimos três meses do ano em curso, estamos infelizmente convictos que não atingiremos a meta -confidenciou-nos o delegado provincial do IIPE, Neto Borges.
Consta que em toda a extensão da costa (2780 quilómetros) funcionam comités de co-gestão (comissões de pescadores responsáveis pela mobilização comunitária de uso de artes não nocivas), mas que, paradoxalmente, ainda os problemas acima expostos se mantêm.
Para o nosso interlocutor, esta aparente renitência das comunidades de pescadores em recorrer ao uso das artes nocivas resulta da alegada resistência às mudanças.
Marcos Ossufo, presidente do Comité de Co-Gestão da Praia Nova, na região de Cuiriquige e ao mesmo tempo proprietário de uma dezena de embarcações de pesca com recurso a rede de emalhar, confirma ter sido informado pelos técnicos do sector das Pescas acerca das implicações negativas decorrentes da aplicação daquela arte, mas não nega que alguns, que ele denominou de pessoas sem condições, usam a rede mosquiteira.
Para o nosso interlocutor, nos últimos tempos os níveis de produção pesqueira do sector familiar, pelo menos em Cuiriquige, têm estado a baixar substancialmente.
A nossa produção diária não vai para além de 20 quilogramas por cada embarcação, mas nos anos passados chegávamos aos 40 ou 50 quilogramas de peixe por cada barco, não sei o que está a acontecer- questionou-se.
Sobre a sua pergunta, a resposta que o sector de Pescas dá é de que para além da destruição das condições que propiciam a reprodução e crescimento do peixe estamos perante o problema de as comunidades estarem a exercer uma enorme pressão sobre o mar.
AQUACULTURA PODE SER ALTERNATIVA
Está em curso na província de Nampula um programa de massificação da aquacultura (criação de peixe em cativeiro), uma iniciativa que, segundo o director provincial das Pescas, Daniel Amade, pretende-se que seja uma alternativa (a médio e longo prazos), a questão da forte dependência das comunidades costeiras em relação ao mar.
No distrito de Angoche, região onde a nossa Reportagem trabalhou recentemente para avaliar o grau de adesão à iniciativa, constatámos que pelo menos 9 operadores privados estão a produzir entre 1 e 2 toneladas de pescado diverso de cativeiro.
Rogério Amade, funcionário público afecto aos Registos e Notariado, possui actualmente 6 tanques piscícolas. Comecei como brincadeira até que descobri que, afinal, este negócio dá dinheiro – contou Amade.
Como constrangimentos apontou a falta de condições materiais (ração para a engorda do peixe e pá escavadora para abertura de mais tanques), entre outras.