A professora associada da Universidade de Tóquio dos Estudos Estrangeiros, no Japão, Sayaka Funada Classen, disse que uma investigação realizada recentemente ao longo do Corredor de Nacala, nas províncias do Niassa e Nampula, concluiu que o ProSavana não foi planeado nem formulado para servir os interesses dos pequenos agricultores.
Classen, que falava ontem em Maputo na Conferência Triangular dos Povos (Moçambique, Japão e Brasil), disse que, como professora e académica, tem participado em diálogos oficiais com o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Japão e a Agência Japonesa de Cooperação Internacional (JICA), em Tóquio, sobre a situação das comunidades no norte de Moçambique.
“Acabo de voltar do Niassa e Nampula onde fui fazer pesquisa de campo. Lamento muito ter chegado à conclusão de que o ProSavana não foi planeado, formulado para servir os interesses dos pequenos agricultores locais que ultrapassam 80 por cento dos produtores locais, nem das comunidades rurais do norte de Moçambique”, disse.
Citando fontes governamentais, a professora associada diz que os documentos demonstram que o ProSavana foi planeado para servir os interesses e as necessidades do Brasil e Japão, e era uma iniciativa do governo japonês.
“O apoio aos camponeses locais só apareceu devido às críticas de questões resultantes da articulação da sociedade civil dos três países e ainda a nível internacional. Somente quando estas vozes já não podiam ser ignoradas é que o apoio aos camponeses locais passou a ser um objectivo maior”, disse.
Manipulação dos movimentos
Sayaka Classen disse que os planos e acções dos agentes do ProSavana são contraditórios. A falta transparência e a tentativa de manipulação e divisão dos movimentos continua a ser o hábito tradicional do ProSavana.
“O pior é que, na tentativa de conquistar a população do norte de Moçambique, os agentes do ProSavana estão a fazer todo o tipo de promessas”, disse.
A investigadora cita um funcionário governamental do Niassa que se expressou da seguinte maneira, “é como um namoro antes de casamento. Para conquistar a aceitação, prometem tudo, mas uma vez casados, o casamento fica outra coisa”.
Um outro representante da Sociedade Civil no Niassa contou o seguinte episódio à professora. “Antes o ProSavana era café que amarga, agora é um chocolate doce, para a JICA conquistar-nos”.
O ProSavana é um mega-projecto de agronegócio a ser executado no Corredor de Nacala, norte de Moçambique, pelo Governo e sector privado brasileiro, em parceria com o Japão. Vai ocupar 14,5 milhões de hectares de terra, cerca da metade da terra arável, num contrato de 50 anos renováveis. Visa transformar as savanas tropicais daquela região em áreas de maior produção agrícola.
Em Moçambique, 70 por cento da população vive em situação de pobreza e 80% desta encontra-se em zonas rurais. A subsistência destes grupos populacionais está dependente da agricultura.
Canal Moz