A Justiça egípcia começou este domingo a interrogar Mohamed Morsi – o Presidente islamista derrubado pelos militares, no início do mês – sobre as circunstâncias da sua evasão da prisão, no início de 2011, durante a revolta contra Hosni Mubarak.
Morsi e outros membros da Irmandade Muçulmana estão a ser interrogados em local secreto, disseram à AFP fontes judiciais. O inquérito, acrescentaram, pretende apurar se foram ajudados por grupos estrangeiros como o Hezbollah libanês ou o Hamas palestiniano a fugir da prisão de Wadi Natroun, a nordeste do Cairo.
Em Junho, ainda antes de Morsi ser afastado pelo Exército – no passado dia 3, após gigantescas manifestações de rua – um tribunal egípcio concluiu que aqueles dois movimentos estiveram implicados na evasão, lembra a agência.
No sábado, fontes judiciais anunciaram que o novo procurador geral examinou queixas particulares apresentadas contra o Presidente derrubado e outros membros da Irmandade, por “espionagem”, “incitamento à morte de manifestantes” e “má gestão económica” e que poderá ser aberto um inquérito oficial.
Após a detenção de Morsi, eleito nas presidenciais de 2012, os seus partidários têm protestado vigorosamente contra o “golpe de Estado” militar e a tensão mantém-se. Para segunda-feira estão previstas novas manifestações, incluindo uma junta às instalações da Guarda Republicana egípcia onde, mais de meia centena de islamistas foram mortos no dia 8.
O novo poder egípcio emitiu na semana passada mandados de detenção contra o líder da Irmandade Muçulmana, Mohamed Badie, e outros dirigentes a quem responsabiliza pelas mortes.
O Governo dos Estados Unidos pediu na sexta-feira ao Exército egípcio para libertar o Presidente deposto. Horas antes, a Alemanha tinha defendido que organizações internacionais tivessem acesso a Morsi. O pedido americano foi feito pela porta-voz do Departamento de Estado, Jen Psaki, que disse que a Administração Obama se juntava à posição alemã sobre Morsi.
O ministério dos Negócios Estrangeiros alemão emitira horas antes um comunicado sobre a situação egípcia, no qual pedia “o fim de todas as medidas limitadoras da liberdade de movimentos do senhor Morsi” e o acesso ao Presidente deposto por organizações internacionais.
O novo poder egípcio diz que o Presidente islamista, que não foi visto em público depois de ter sido derrubado, está em “local seguro” e a ser “tratado dignamente”.
Novo governo
Ao mesmo tempo, as novas autoridades procuram formar Governo. O primeiro-ministro indigitado, Hazem Beblawi, prossegue este domingo contactos e informou que a composição do executivo poderá ser anunciada na terça ou na quarta-feira.
Fontes oficiais citadas pela agência Mena disseram o ministro da Defesa, general Abdel Fattah al-Sissi – novo homem forte do país – deverá conservar o cargo que tinha com Morsi.
A Reuters noticiou que Nabil Fahmy, antigo embaixador nos Estados Unidos, aceitou a pasta dos Negócios Estrangeiros. O dirigente político de esquerda Godah Abdel Khalek, que em 2011 integrou o Governo durante alguns meses, disse à mesma agência ter rejeitado um cargo no executivo interino por razões pessoais.
O processo de transição proposto pelo Presidente interino, Adly Mansour, prevê a adopção de uma nova Constituição e a realização de eleições legislativas e presidenciais até ao início de 2014.
RM