A Turquia enfrenta um período de crescente instabilidade política, após a detenção de Ekrem Imamoglu, presidente da câmara de Istambul e membro do Partido Republicano do Povo (CHP), que foi preso na quarta-feira sob acusações de corrupção e ligações terroristas.
Esta detenção gerou um clamor por parte da oposição, que considera esta ação uma tentativa de golpe de Estado, especialmente à luz das primárias, nas quais Imamoglu seria o concorrente de Recep Tayyip Erdogan nas próximas eleições presidenciais.
Em resposta a esta situação, o líder do CHP, Ozgur Ozel, apelou aos cidadãos turcos para se juntarem a uma nova manifestação a decorrer hoje às 20:30, hora local, após o rompimento do jejum do Ramadão. Essa convocatória, no entanto, foi recebida com críticas por parte do governo. Erdogan descreveu o apelo de Ozel como uma “grave irresponsabilidade”, acusando a oposição de tentar incitar o caos nas ruas sob o pretexto de uma operação judicial em Istambul.
“Estamos a assistir a uma tentativa de provocar o caos nas nossas ruas, utilizando como pretexto uma operação de corrupção em Istambul”, comentou Erdogan durante uma declaração à agência Anadolu. O presidente assegurou que as autoridades não se deixarão intimidar por “um punhado de pessoas incompetentes e ambiciosas” que buscam perturbar a paz e a ordem pública.
No intuito de controlar a situação, as autoridades turcas fecharam duas pontes e várias vias de acesso à sede do município de Istambul durante 24 horas. Desde a detenção de Imamoglu, têm ocorrido manifestações em pelo menos 32 das 81 províncias do país, segundo a agência francesa AFP. O ministro da Justiça, Yilmaz Tunç, classificou as convocatórias da oposição como “ilegais e inaceitáveis”.
A tensão em Istambul aumentou na quinta-feira, quando a polícia utilizou gás lacrimogéneo e balas de borracha para dispersar os manifestantes que tentavam marchar da câmara para a emblemática Praça Taksim. Em Ancara, a polícia recorreu também a canhões de água, resultando em confrontos que culminaram com a detenção de 53 pessoas e 16 polícias feridos.
As autoridades impuseram ainda uma proibição de todas as concentrações em Ancara e Izmir, a terceira maior cidade da Turquia, até terça-feira à noite. Este actual surto de protestos é considerado sem precedentes desde as grandes manifestações que tiveram início na Praça Taksim em 2013.