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Conselho Islâmico e Conselho Cristão de Moçambique divergem quanto a violações à liberdade religiosa

Reagindo ao relatório da embaixada norte-americana em Maputo, a Comunidade Islâmica de Moçambique defende que a atitude das autoridades policiais mina a liberdade religiosa, a medir pelo alarme das denúncias de serem usados critérios como barba e indumentária para prender pessoas.

O sheik Aminudin Muhamad reitera que não há nenhuma ligação entre a religião e as acções dos terroristas que aterrorizam Cabo Delgado. Aliás, Aminudin entende isso como propaganda para denigrir a imagem de uma religião enraizada há mais de mil anos em Moçambique, percurso no qual “nunca houve caso relacionado ao terrorismo”.

Aminudim vai mais longe, ao afirmar que a seita é vítima dos dois lados, isto é, das autoridades policiais e do terrorismo. “Eles não têm nada a ver com islão, são puramente bandidos, vêm queimar as nossas mesquitas, já mataram 150 imamos (líderes)”, explicou.

O líder islâmico recorda que Cabo Delgado é maioritariamente habitado por muçulmanos e questiona a razão de os crentes serem conotados “só agora” em que há descoberta de recursos.

Entretanto, para a comunidade cristã, que reconhece não haver ligação entre os praticantes da religião islâmica e o terrorismo, o Governo não agiu de má-fé. Segundo explica o secretário-geral, o Executivo demorou a perceber a diferença entre os insurgentes e os verdadeiros religiosos.

“Muçulmanos não podem matar muçulmanos. Usaram a religião islâmica como se fosse mentora da guerra e o Governo demorou a entender. Tendo-se identificado assim, os islâmicos tiveram que sofrer”, disse o secretário-geral.

Portanto, para o Conselho Cristão, as detenções são condenáveis, mas a situação difícil de contornar não abre campo para condenar o Governo, atendendo que há duas alas na religião islâmica. “Há uma ala tão conservadora que não aceita que um muçulmano conviva com outra pessoa de outra religião.”

Entretanto, o secretário-geral do Conselho Cristão aponta que o Governo deve aprimorar o processo de reconhecimento e fiscalização da actividade religiosa no país, face a eventuais ameaças.

O departamento do Estado norte-americano aponta, igualmente, que algumas pessoas foram recolhidas às celas por suposta violação das medidas de prevenção da COVID-19.

Neste ponto, o Conselho Cristão esclarece que estes incidentes não podem ser associados à ameaça à liberdade religiosa, atendendo que, no contexto da pandemia, o Governo chamava os religiosos a cumprirem à risca as medidas sanitárias.