Politica Dissidência armada da Renamo não tem dinâmica de expansão, considera Michel Cahen

Dissidência armada da Renamo não tem dinâmica de expansão, considera Michel Cahen

O historiador francês Michel Cahen considerou ontem que a Junta Militar da Renamo “não tem uma dinâmica de expansão”, porque o grupo é “uma dissidência minoritária” do centro de Moçambique com reivindicações que podem ser resolvidas com “vontade política”.

A Junta Militar da Renamo opõe-se ao Acordo de Paz e Cessação das Hostilidades Militares assinado no ano passado entre o Governo moçambicano e a liderança da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal partido da oposição, e é acusada de protagonizar ataques a alvos civis e das Forças de Defesa e Segurança (FDS) nas províncias de Sofala e Manica, centro de Moçambique.

Numa videoconferência sobre o tema “Renamo Pós-Dhlakama”, Michel Cahen, autor de várias obras sobre Moçambique, considerou que as reivindicações da Junta não têm a adesão da maioria dos guerrilheiros do braço armado do principal partido da oposição e as suas ações armadas não ameaçam expandir-se para além do centro de Moçambique.

“A Junta Militar da Renamo é uma questão séria, mas sem grandes consequências políticas. Com vontade política, seria fácil de resolver, se não for resolvido, é porque há quem não tenha vontade de resolver”, enfatizou o académico francês.

Michel Cahen avançou que a maioria dos mais de cinco mil guerrilheiros que a Renamo pretende entregar para desarmamento e desmobilização quer ir para casa e é leal a Ossufo Momade.

“A maioria é fiel a Ossufo Momade e está ansiosa por fazer parte do desarmamento, desmobilização e reintegração”, frisou.

O surgimento de uma dissidência na Renamo, prosseguiu, pode ser resultado de clivagens entre um setor militar urbano do principal partido da oposição e um outro do mato.

“Ossufo Momade [presidente da Renamo] é decisivamente um militar da cidade e Mariano Nhongo [líder da junta] é um militar do mato”, comparou Michel Cahen.

Apesar de ter sido um importante comandante militar da guerrilha durante a guerra civil que terminou em 1992, Ossufo Momade perdeu o contacto com os homens armados do partido que continuaram nas matas, após a assinatura do Acordo Geral de Paz, enquanto Mariano Nhongo nunca deixou as bases da organização.

Para Michel Cahen, a questão regional também pode ajudar a explicar a contestação à liderança de Ossufo Momade, pois este é oriundo da província de Nampula, norte de Moçambique, enquanto a Renamo foi fundada no centro do país e os seus anteriores presidentes eram desta região.

Aquele historiador assinalou que o facto de Ossufo Momade pertencer a uma etnia diferente dos líderes fundadores da Renamo é uma questão relevante, mas não predominante, porque o atual líder do partido é proveniente do maior círculo eleitoral do país e venceu as eleições internas também com o apoio do segundo maior círculo eleitoral, a província da Zambézia.

“A identidade étnica tem de ser vista dentro de um leque de fatores, como a questão social e regional”, frisou.