Dez jornalistas moçambicanos pediram ontem (17) ao Presidente da República, Filipe Nyusi, que ordene a libertação do jornalista Ibrahimo Abu Mbaruco, referindo relatos populares de que terá sido levado pelas forças de defesa e segurança, em Palma, norte do país.
Órgãos de comunicação social e organizações da sociedade civil afirmam que Ibrahimo Abu Mbaruco, jornalista de uma rádio comunitária do distrito de Palma, província de Cabo Delgado, está desaparecido desde dia 07 deste mês, quando foi levado por elementos das forças de defesa e segurança moçambicanas.
Na sequência desse acontecimento, dez jornalistas enviaram hoje uma carta a Filipe Nyusi, pedindo que mande libertar o jornalista, na qualidade de comandante-chefe das forças de defesa e segurança.
Ibrahimo Abu Mbaruco foi obrigado a acompanhar os militares, que o levaram sem nenhuma base legal, diz a carta.
“É dever do Estado moçambicano proteger os direitos dos cidadãos, em geral, e dos jornalistas, em particular, mesmo em situações de guerra”, refere o texto.
Para os subscritores da carta, as forças de defesa e segurança moçambicanas têm vindo a fazer o contrário.
Os jornalistas recordam que não é a primeira vez que as forças de defesa e segurança moçambicanas detêm ilegalmente profissionais da comunicação social em Cabo Delgado.
No início de 2019, os jornalistas Amade Camal e Germano Adriano foram mantidos em cativeiro num quartel militar, tendo sido libertados após pressões internas e internacionais.
Ambos são alvos de processos-crime, cujo desfecho ainda não aconteceu.
Ainda no ano passado, os jornalistas Anastácio Valoi e o ativista moçambicano da Amnistia Internacional (AI) David Matsinhe foram detidos em Cabo Delgado.
Esta semana, o jornalista do canal privado STV, Izidine Achá, foi momentaneamente detido a exercer a atividade na cidade de Pemba, capital de Cabo Delgado.
Na quarta-feira, a União Europeia (UE) manifestou preocupação com o agravamento da segurança em Cabo Delgado e com o desaparecimento de Ibrahimo Abu Mbaruco, defendendo o esclarecimento do caso.
O Instituto de Comunicação Social da África Austral (MISA) disse hoje que a família do jornalista apresentou uma queixa na procuradoria distrital de Palma face ao desaparecimento de Abu Mbaruco.
O MISA adiantou, em comunicado, que várias entidades governamentais em Cabo Delgado foram contactadas para assegurar que Ibrahimo Abu Mbaruco volte a casa e ao trabalho são e salvo.
A província de Cabo Delgado é desde outubro de 2017 palco de ataques de grupos armados, que já provocaram centenas de mortos, entre civis, membros das forças de defesa e segurança e insurgentes, além da destruição de bens e fuga de milhares de pessoas.
O Estado Islâmico (EI) reivindicou várias vezes a autoria dos ataques, que acontecem em distritos próximos de áreas onde estão presentes multinacionais petrolíferas que vão explorar o gás natural da bacia do Rovuma.