A gigantesca rejeição ao presidente Michel Temer, o mais impopular presidente brasileiro das últimas décadas, parece ter conseguido demovê-lo do estranho projecto de se lançar candidato à reeleição nas eleições do próximo mês de Outubro.
Depois de ele mesmo ter anunciado ser candidato, para, conforme afirmou na altura, “defender o legado” que diz ir deixar ao Brasil quando terminar o mandato, a 31 de Dezembro, Temer nos últimos dias já sinalizou a pessoas mais próximas ter desistido, ou estar a pensar em desistir, de tentar manter-se no cargo.
Para isso contribuíram decisivamente pedidos e “recados” enviados por directórios regionais do seu partido, o PMDB, de norte a sul do país, que não o querem ter como candidato. Maior partido do Brasil mas tendo perdido muito espaço nas eleições municipais de 2016, as últimas realizadas, o PMDB não quer nem ouvir falar na candidatura de Temer, pois sabe que isso afastará eleitores e inviabilizará alianças locais e estaduais com outros partidos, que não querem ter o nome deles ligado ao do polémico presidente, que tomou o poder depois de ter comandado manobras que afastaram a então presidente Dilma Rousseff.
Nas últimas sondagens, realizadas pelo Instituto Datafolha no mês passado, no melhor resultado entre os nove cenários pesquisados, Temer surge apenas com 2% das intenções de voto. Nos outros cenários avaliados, Temer oscila entre 1% e menos do que isso, e a sua rejeição pelo eleitorado é superior a 70%.
Apesar desses números, Temer decidiu lançar-se como candidato, acreditando que, com o passar do tempo e o início da campanha formal na televisão, o seu partido, com influência a nível local no país todo, o ajudaria a reverter esse quadro tão desfavorável. Mas o tempo passou e o que se viu foi o contrário, é o PMDB, que, dependendo da região, ora faz aliança com partidos à direita, ora com partidos à esquerda, incluindo o PT de Lula, que não quer nem a candidatura nem mesmo a participação de Temer nos palcos dos comícios, pois, na avaliação interna, candidato que Temer apoie é candidato derrotado.
Percebendo, finalmente, que não vai conseguir a reeleição, do que precisava desesperadamente para ficar imune aos inúmeros processos que tem contra si na justiça e que só estão parados por causa do cargo que ocupa, Temer parece ter mudado a sua estratégia. Ele e o seu grupo político mais próximo, nomeadamente os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco, igualmente alvos de denúncias de corrupção, estão a avaliar apoiar, mesmo que nos bastidores, um candidato que lhes dê algum tipo de garantia de que, quando perderem a imunidade garantida pelos cargos que ocupam, tente impedir que as garras da justiça os atinjam, ou, ao menos, que os atinjam de forma atenuada.
CM