A luta contra o grupo ‘jihadista’ nigeriano Boko Haram agravou o nível de precariedade no extremo norte da região mais desfavorecida dos Camarões, confrontada já com graves problemas, indica hoje um relatório de uma organização internacional.
No documento, o centro de análise Grupo para as Crises Internacionais (ICG, na sigla inglesa) refere que, antes da chegada do Boko Haram, o extremo norte do país era já a região mais pobre dos Camarões, onde 74% da população vive abaixo do limiar da pobreza, o que contrasta com os 37,5% da média nacional.
“O conflito agravou a situação”, frisa a organização, que recomendou a aprovação de um “pacto de desenvolvimento” para relançar a economia da região, que conta com cerca de quatro milhões de habitantes.
Segundo o ICG, desde 2014, quando os Camarões entraram em guerra contra o Boko Haram, o grupo ‘jihadista’ matou “cerca de 2.000 civis e militares” e raptou “um milhar de pessoas” na região, enquanto do lado do movimento terrorista sofreu baixas entre os 1.500 e 2.000 guerrilheiros.
Segundo o relatório da organização internacional, o conflito e as suas consequências “paralisaram” a economia local e provocaram um “abrandamento” da nacional.
À falta de um estudo internacional, lembra o ICG, o Fundo Monetário Internacional (FMI) avaliou o impacto orçamental do conflito, incluindo as despesas de guerra, entre 1% a 2% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2015, ou seja, entre 325 e 650 milhões de dólares (entre 276,3 e 553 milhões de euros).
Por seu lado, o Governo camaronês estimou em cerca de 40 mil milhões de francos CFA (366 milhões de euros) o valor provocado pela destruição de bens, casas (mais de 40.000 habitações destruídas), escolas, mercados, estradas e centros de saúde.
“O conflito desfez o tecido empresarial e comercial local, empobrecendo os milhares de comerciantes que dependiam das trocas de bens com a Nigéria“, acrescenta-se no documento.
O turismo, salienta o ICG, “é provavelmente o sector mais afectado” pelo conflito, que levou ao encerramento de 27 hotéis e de dezenas de restaurantes.
“A agricultura, transportes, pesca e agropecuária, sectores que empregam centenas de milhar de pessoas, foram também muito afectados“, termina o relatório.
DN