O ex-vice-presidente egípcio Mohamed El-Baradei, que tinha a tutela das relações exteriores, é acusado de “trair a confiança nacional” por ter apresentado a demissão após a repressão contra os apoiantes do Presidente deposto Mohamed Mursi. De acordo com o canal Al-Jazeera, que cita o jornal egípcio Al-Ahram, um tribunal do Cairo já agendou o início do processo contra El-Baradei para 19 de Setembro.
Citado pela Lusa, o jornal referiu que as acusações contra El-Baradei, uma figura da oposição laica egípcia, foram apresentadas por um professor de Direito Penal da Universidade de Helwan, localizada na capital egípcia.
O Nobel da Paz (2005), que foi designado pela presidência egípcia interina após a destituição de Mursi em Julho passado, é acusado de “traição do dever fiduciário” ao ter apresentado a demissão no passado dia 14 de Agosto. O advogado, citado pelo jornal Al-Ahram, alegou que a demissão de El-Baradei criou a “falsa impressão” que o governo egípcio usou uma força excessiva para dispersar os apoiantes de Mursi”, acrescentando que o ex-vice-presidente “traiu o seu dever, o que é traição à nação”.
Em declarações ao canal de televisão Al-Jazeera, Khaled Dawoud, antigo porta-voz da Frente de Salvação Nacional, movimento que foi fundado por El-Baradei, afirmou que a decisão do Ministério Público de remeter o caso para tribunal é provavelmente uma consequência do actual ambiente de polarização que se vive no país. “É um reflexo do actual ambiente no Egipto. Uma pessoa não pode assumir uma posição independente”, afirmou Dawoud, concluindo que as acusações contra El-Baradei são ridículas.
Mohamed El-Baradei apresentou a demissão depois de a polícia ter dispersado violentamente os apoiantes de Mursi, concentrados em praças da capital egípcia.
Entretanto, o primeiro-ministro interino do Egipto, Hazem al-Beblawi, disse na terça-feira que será um erro se os EUA cortarem a sua ajuda militar, mas insistiu que o Cairo pode sobreviver sem ela. Uma eventual decisão de Washington de paralisar o seu envio de armas e outro tipo de apoio ao Egipto “seria um mau sinal e afectaria gravemente as forças militares por algum tempo”, disse al-Beblawi à rede ABC News.
A violenta repressão das forças de segurança egípcias contra os manifestantes os EUA a cancelarem as manobras militares conjuntas e a adiar a entrega de quatro caças F-16.
Al-Beblawi lembrou, porém, que o Egipto adquiriu armas da Rússia no passado e que, nesta ocasião, também encontrará uma saída, sem deixar de receber a ajuda americana.
De acordo com a France Press, os Estados Unidos concedem 1,3 biliões de dólares em ajuda militar anual ao Egipto, o que incluiu aviões de guerra e tanques, desde 1987.