O Comité para a Protecção dos Jornalistas (CPJ) e a secção moçambicana do Instituto da Comunicação Social da África Austral (MISA) exigiram às autoridades do país informações “credíveis” sobre o paradeiro de dois jornalistas que se encontram desaparecidos na província de Cabo Delgado.
Ibraimo Mbaruco, jornalista e locutor da Rádio Comunitária de Palma, foi visto pela última vez a deixar o seu escritório no dia 7 de Abril de 2020, por volta das 18 horas. Pouco depois, Mbaruco enviou uma mensagem de texto a um colega, afirmando que estava “cercado por soldados”.
O segundo jornalista desaparecido, Arlindo Chissale, é o editor do site “Pinnacle News”. No dia 7 de Janeiro deste ano, Chissale viajava num minibus pela aldeia de Silva Macua, quando um grupo de oito homens armados, alguns trajando uniformes das forças de defesa e segurança moçambicanas, o mandou sair do veículo. Desde então, não se obteve mais nenhuma informação sobre ele.
As famílias dos dois jornalistas manifestaram a sua devastação pelo desaparecimento dos seus entes queridos, bem como pela incapacidade do governo em investigar adequadamente os casos. Angela Quintal, directora regional do CPJ para África, afirmou que “a sugestão de cumplicidade militar é mais um sinal preocupante de que Moçambique não é um país seguro para os jornalistas”.
Quintal enfatizou que “o governo do Presidente Daniel Chapo deve proporcionar respostas sobre o paradeiro de Mbaruco e Chissale, como parte de um esforço mais amplo para assegurar aos jornalistas moçambicanos a sua segurança e liberdade”.
Ernesto Nhanale, director executivo do MISA-Moçambique, afirmou que a suspensão do caso de desaparecimento antes de esgotar todas as linhas de investigação “não faz sentido”, sublinhando que tal decisão revela um desinteresse do Estado moçambicano em resolver crimes contra jornalistas.
Nos dias que se seguiram ao desaparecimento de Mbaruco, a sua família e colegas tentaram contactá-lo repetidamente, mas o seu telemóvel estava desligado. Entretanto, segundo informações do MISA-Moçambique, o telefone foi reactivado a 8 de Junho de 2020, e a organização notificou as autoridades, pedindo a utilização de tecnologia de geolocalização para rastrear os movimentos do jornalista.
Uma fonte policial, que requisitou anonimato, indicou ao MISA que soldados teriam levado Mbaruco para interrogatório em Mueda, a cerca de 300 quilómetros de Palma, onde se localiza o Teatro Operacional do Norte das Forças Armadas Moçambicanas.
No que respeita a Chissale, poucas horas antes do seu desaparecimento, ele recebeu uma mensagem que o alertava sobre um possível risco. Nos meses anteriores, havia publicado comentários acusando o partido no poder, Frelimo, de fraude eleitoral e expressado apoio à oposição. Chissale já havia sido vítima de assédio, tendo sido detido em Novembro de 2022 sob a acusação de “terrorismo”, acusação que foi posteriormente retirada, sendo alegado que estava a trabalhar como jornalista sem a devida acreditação.
O apelo do CPJ/MISA surge em vésperas do Dia Internacional das Vítimas de Desaparecimento Forçado.