Ossufo Momade, líder do antigo movimento rebelde Renamo, fez a sua primeira aparição pública em meses para inaugurar uma reunião da associação dos veteranos militares da Renamo (ACOLDE), no centro da capital moçambicana.
A ausência prolongada de Momade coincidiram com uma séria crise interna no partido. Várias pessoas que se identificavam como guerrilheiros desmobilizados fecharam escritórios da Renamo em todo o país, exigindo a sua demissão e responsabilizando-o pela fraca performance do partido nas últimas eleições gerais, onde a Renamo perdeu a sua posição como principal força da oposição parlamentar.
Historicamente, a Renamo sempre ocupou o segundo lugar nas eleições, atrás do partido no poder, Frelimo. No entanto, nas recentes eleições, o partido viu-se relegado para a terceira posição, atrás também do Partido dos Optimistas pelo Desenvolvimento de Moçambique (Podemos).
A revolta contra a liderança de Momade culminou na ocupação da sede da Renamo na cidade de Maputo por um grupo que reivindicava ser composto por ex-guerrilheiros. A situação exigiu a intervenção da polícia de intervenção rápida (UIR), que expulsou os desmobilizados dos escritórios do partido.
Em meio a esta crise, a liderança da Renamo encontra-se em posição legal sólida, visto que Momade foi eleito presidente da formação em dois congressos partidários, em 2019 e 2024. Os seus opositores carecem da mesma legitimidade democrática.
Na semana passada, o grupo parlamentar da Renamo manifestou, de forma unânime, apoio a Momade, apesar do descontentamento de vários deputados em relação à sua liderança.
Ao abrir a reunião da ACOLDE, Momade apelou aos membros da Renamo para que estabelecessem “plataformas de diálogo interno”, com o intuito de construir consenso e superar as tensões actuais. “A Renamo sempre foi um partido de diálogo”, afirmou. “Os nossos estatutos consagram estruturas como a Liga das Mulheres, a Liga da Juventude e a ACOLDE como organizações fundamentais para a vitalidade do Partido.”
Momade estimulou os guerrilheiros desmobilizados a utilizarem a ACOLDE como um espaço para discutir ideias que fortalezam a unidade do partido e a sua missão histórica. Reiterou que “os nossos adversários políticos não são os nossos companheiros dentro do partido, mas sim aqueles que tentam, a todo custo, impedir-nos de cumprir a nossa missão de governar Moçambique.”
Durante o seu discurso, expressou também preocupação pela alegada marginalização dos ex-guerrilheiros durante o processo de Desmobilização, Desarmamento e Reintegração (DDR), um elemento chave do acordo de paz assinado entre Momade e o então Presidente, Filipe Nyusi, em agosto de 2019. Neste processo, 5.221 ex-guerrilheiros foram desmobilizados e passaram à vida civil.
Momade salientou que o DDR começou antes de assumir a liderança da Renamo, garantindo que a sua gestão apenas continuou os acordos firmados entre a Renamo e o governo anterior. “Fizemos tudo para assegurar que os fighters desmobilizados tivessem acesso a pensões e a projetos geradores de rendimentos”, declarou.
Reconheceu que ainda há desafios em garantir que todos os desmobilizados recebam as suas pensões, atribuindo as dificuldades à responsabilidade do governo. “A Renamo e o seu presidente não são responsáveis por corrigir ou pagar pensões”, afirmou, sublinhando que essa é uma obrigação do Estado.
O representante da ACOLDE, Domingos Gundana, apelou ao espírito de fraternidade e ao debate calmo entre os membros da Renamo, enfatizando a importância de encontrar “soluções construtivas” para fortalecer o partido.
Elias Dhlakama, irmão mais novo de Afonso Dhlakama, alertou que a Renamo atravessa “um dos momentos mais delicados da sua história”, citando o desaparecimento de outros grandes partidos em África, se o partido não agir de maneira responsável. Dhlakama, que desafiou Momade pela liderança nos últimos congressos, duvidou que a reunião da ACOLDE conseguiria resolver a crise interna do partido. “A liderança do Partido abriu as portas para que o inimigo entrasse na sede nacional do partido”, concluiu.
A situação continua a evoluir e os desdobramentos desta crise podem ter um impacto significativo no futuro da Renamo e na política moçambicana.