Destaque Empresários deixam Beira deserta em protesto contra onda de raptos

Empresários deixam Beira deserta em protesto contra onda de raptos

Centenas de estabelecimentos comerciais não abriram as portas na sexta-feira, 23, na Beira, a segunda maior cidade de Moçambique, no primeiro de três dias de protestos contra raptos, convocados por um movimento empresarial.

Um grupo de empresários anunciou ontem que o comércio formal vai encerrar por três dias consecutivos, numa greve pacífica para forçar o Governo a garantir a segurança dos cidadãos e a travar os raptos, que se tornaram uma “realidade endémica”.

A greve dos empresários tem o apoio de grande parte da população que quer um Governo mais actuante na garantia da segurança da sua população, sobretudo da classe que dinamiza a economia real do país.

“Esses raptos de certa forma acabam nos afectando indiretamente, são irmãos que ficam desempregados com a desistência nos negócios por parte dos empresários, e nós, ambulantes, ficamos sem ter onde comprar produtos”, contou à VOA Afonso Paulo, um vendedor ambulante.

O analista Sansão Nhancale considera que a paralisação vai afectar em cascata o comércio informal, por encontrar-se inteiramente dependente do formal, com consequências sociais drásticas.

“Estes empresários representam de 70 a 80 por cento do comércio formal na Beira e a paralisação ira afectar a economia da cidade e com consequências sociais que dai advém”, acerntua Nhancale, para quem a pressão empresarial é proporcional ao sentimento de insegurança.

Ao anunciar a greve ontem, Zeyn Badati, porta-voz dos empresários, afirmou que “cada rapto vencedor mina a confiança no país, retrai o investimento nacional e estrangeiro, destrói negócios viáveis já instalados, desacredita o Estado e seus agentes e empondera o crime e os criminosos”.

Os empresários disseram que as cidades da Beira e Maputo, a capital, tornaram-se “em paraíso para as quadrilhas de raptores” e acusam o Governo de pouco fazer para parar o fenómeno.

“Nós cumprimos com as nossas obrigações, contribuir com os nossos impostos”, mas o Estado não garante a segurança e “a omissão por parte do Estado moçambicano está a fortificar a indústria dos raptos”, calcula o movimento.

“Somos cidadãos contribuintes do Estado, mas em paralelo acabamos por ser, de forma involuntária e violenta, contribuintes para a indústria de raptos, ao pagar os resgates (…), e esta situação é insustentável e inaceitável”, avançam os empresários que exigem uma “Beira livre de raptos”.

O caso de rapto mais recente ocorreu no domingo, 18, quando um grupo disparou vários tiros contra um filho de um empresário da Beira, ao resistir a um rapto.

O jovem escapou com ferimentos múltiplos.

O incidente ocorreu pouco dias depois de um empresário em Maputo ter sido morto a tiros quando resistiu a um rapto na hora que encerrava o seu estabelecimento.