Agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM), que trabalhavam em patrulha, sexta-feira última na Estrada Nacional Número Um (N1), em Marracuene, espancaram brutalmente Gino Francisco Fernando Matsinhe, de 50 anos, motorista da “Intercape”. A vítima sofreu sevícias durante quarenta minutos, nomeadamente pontapés, golpes de bastões e coronhadas de arma, quando o autocarro da marca Scania em que se fazia transportar, com a chapa de matrícula ACJ 653 MP, seguindo na direcção Maputo-Beira foi interceptado naquele distrito da província de Maputo, alegadamente por transportar no seu porão um suposto meliante.
Uma das testemunhas oculares contou-nos, sob condição de anonimato, o que viu: “Vínhamos de Maputo e o carro procedeu a uma curta paragem no Zimpeto, onde recolheu Gino Matsinhe, motorista que, estando de serviço, deveria permanecer naquele porão a descansar, até ser chamado a substituir o que vinha a conduzir o carro, pois por norma da empresa os dois não podem seguir lado a lado para não negligenciarem a condução em conversas”.
Segundo a fonte, suspeita-se que alguém tenha informado à Polícia da situação do motorista que viajava naquele porão, pois à chegada à Marracuane, os agentes da lei e ordem interceptaram o machimbombo e, acto contínuo, depois de exigirem o livrete, pediram que se abrisse o porão. Ao que a tripulação obedeceu. E nisto, quando deram com Gino no porão, sem averiguações prévias e sem nenhuma culpa formada, desataram a golpeá-lo. Nem sequer lhe pediram a identidade. Foi vergonhoso e desumano, disse a nossa fonte, que por sinal é um magistrado.
“Só depois de muito terem-no agredido é que a tripulação os convenceu a pararem com as sevícias”.
Por seu turno, a própria vítima contou-nos que no autocarro de luxo que faz as carreiras interprovinciais de longo curso, existe um espaço, no porão, para um dos motoristas da equipa de dois que compõe a tripulação descansar. “Temos um compartimento onde o co-piloto descansa, espécie gaveta. Era por volta das 19 horas. Foram 45 minutos perdidos. Bateram-me na cabeça, nas costelas, até eu ver estrelas. Tinha comigo uns 4.700 meticais, dos quais 2 mil da empresa, outros de ajudas de custos para pagar a residência”.
“Todos estavam bêbados”
“Era um agente à paisana, uma Polícia de Trânsito (PT) e um cinzentinho. Havia um segundo PT que era pacífico. Todos estavam bêbados. Foi um informador que os alertou que eu estava a dormir, desde a cidade”, contou Gino à nossa Reportagem, na Beira.
Os passageiros, segundo Gino, “ficaram chocados. Aconselharam-me a levar o caso à justiça. Sofro dores ainda. Tomo o meu corpo está dorido. Levei pontapés, coronharam-me, pisaram-me, eu caía, acto contínuo levantavam-me e voltavam a bater-me”.
Perguntado sobre o tipo de desfecho que daria ao caso, Gino respondeu: “Falei com a minha empresa. Vamos levá-los à justiça. Não temos identidade deles, mas vamos buscar. Sinto-me humilhado”.
O caso deu-se no controlo da PRM, em Marracuene. No autocarro seguiam vários magistrados que assistiram a tudo.
Canalmoz