Politica "Exoneração de Aires Ali tem raízes no congresso da FRELIMO"

"Exoneração de Aires Ali tem raízes no congresso da FRELIMO"

Para especialista, demissão do então primeiro-ministro, Aires Ali (esq.), tem raízes no congresso da FRELIMO. Causas estariam relacionadas à confiança política e Eduardo Joaquim Molembwe seria novo nome para a sucessão.
"Exoneração de Aires Ali tem raízes no congresso da FRELIMO"
O Presidente de Moçambique, Armando Guebuza, procedeu a uma profunda remodelação governamental. Nesta segunda-feira, exonerou o então primeiro-ministro, Aires Ali, substituindo ainda três outros ministros e um vice-ministro.
As remodelações atingiram ainda os governadores das províncias de Tete, Zambézia e Nampula.
Para o cargo de primeiro-ministro, Armando Guebuza nomeou Alberto Vaquina, até agora governador da província de Tete.
A este respeito, a DW África entrevistou Sultan Mussa, coordenador da fundação alemã Konrad Adenauer, em Maputo.
DW África: Na sua opinião, quais foram os motivos do afastamento de Aires Ali?

Sultan Mussa: Existem várias causas. Isso teve início no congresso da FRELIMO, na província de Pemba. Tanto os membros antigos e tanto os jovens clamavam pela maior abertura dentro do partido – diálogo interno, não-censura à imprensa.
Todas essas questões foram discutidas e o ambiente não foi tão favorável para discutir várias questões políticas. Então, houve muita crítica interna.
Ao substituir, ao exonerar esses ministros – da Educação, Obras Públicas e Turismo – e ao indicar o novo primeiro-ministro, que aliás era um governador de província, depois foi indicado membro da Comissão Política e agora vem a ser o primeiro-ministro, indica que o governo está estável nas suas políticas e nas suas decisões.
DW África: Disse que militantes da FRELIMO clamavam pela maior abertura dentro do partido. Considera que não há abertura política no seio da FRELIMO?
SM: Claro que em debates abertos cá para fora, vemos que existem processos democráticos, que há eleições internas.
Mas existem também debates internos onde, dentro da FRELIMO, eles clamam por uma maior abertura. Foi o caso do antigo combatente [Jorge] Rebelo que denunciava o racismo e a censura à imprensa, internamente.
Isso é um trabalho político interno que está a desenvolver-se dentro do partido.

DW África: O afastamento de Aires Ali foi recebido com surpresa, em Moçambique, ou já era esperado devido à sua não reeleição para a Comissão Política da FRELIMO, no Congresso que se realizou recentemente em Pemba?
SM: Para mim e para alguns, foi de grande surpresa, porque Aires Ali foi um dos nomes que se falava que poderia ser um dos candidatos [à sucessão de Armando Emílio Guebuza].
Posso acreditar que houve alguma coisa, seja uma questão política internamente com o presidente, que gerou este afastamento. Isso deve ter a ver com a confiança política.
A FRELIMO tem uma tradição de que se alguém tem uma ideia diferente da posição do partido, pode ser considerado como um inimigo interno.
DW África: Então Aires Ali teria novas ideias, ou outras ideias diferentes das da liderança do partido?
SM: É possível, num dos casos. Não significa ideia diferente de todos. Mas num dos casos, ou um conflito interno entre o próprio presidente [Armando Guebuza] e o Aires Ali.
DW África: Aires Ali era até agora primeiro-ministro de Moçambique e era apontado por muitos como sucessor de Armando Guebuza na presidência do país. Com o afastamento dele, fica em aberto a sucessão de Armando Guebuza?
SM: Existem mais outros nomes, que é o Molembwe (Eduardo Joaquim Molembwe, ex-Presidente da Assembleia da República), e três ou quatro outros nomes.
Mas, o Aires Ali era a pessoa de quem se falava, não é? Agora, isso surpreende-nos bastante, quando se apresenta que o novo primeiro-ministro é o [Alberto] Vaquina, de quem praticamente não se falava.
Não acredito que o Vaquina vá ser indicado. Acho que não é provável.
Matéria da DW África