O sindicato dos médicos egípcios advertiu para uma eventual “catástrofe sanitária”, acusando o Ministério da Saúde de negligência face à propagação da Covid-19 entre o pessoal hospitalar no país.
O sindicato dos médicos egípcios advertiu esta segunda-feira sobre a perspectiva de uma “catástrofe sanitária” ao responsabilizar a “passividade e negligência” do Ministério da Saúde face à propagação do novo coronavírus entre o pessoal hospitalar no Egipto.
A organização sindical admitiu um “possível colapso total do sistema de saúde que poderá implicar uma catástrofe sanitária (…) caso o Ministério da Saúde persistia na sua passividade de negligência”.
Mais de 390 médicos estão infectados e 19 morreram em consequência do novo coronavírus, precisou em comunicado o sindicato. Apenas no dia de domingo foi registada a morte de quatro médicos.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) tinha prevenido em Março que 13% das contaminações no Egipto iriam atingir os médicos e restante pessoal hospitalar.
A “responsabilidade” pelo aumento dos casos de infecção e de mortes entre os médicos deve ser “inteiramente” atribuída ao ministério da Saúde, considerou esta segunda-feira o sindicato.
A organização ameaçou ainda o ministério com processos judiciais, por uma situação que associa a “homicídio por negligência” face a esta profissão.
O Egito regista oficialmente 17.265 casos de pessoas infetadas pelo novo coronavírus, incluindo 764 mortes.
Desde o início da pandemia que o sindicato tem vindo a alertar as autoridades pelo destino do pessoal hospitalar, que se confronta com escassez de equipamento apropriado e pouca preparação para enfrentar esta nova doença.
A falta de material de proteção, a ausência de formação específica do pessoal auxiliar para tratar os doentes com a Covid-19 e a recusa em efetuarem testes encontram-se entre as principais reclamações.
O comunicado desta segunda-feira, mais virulento face aos anteriores, foi publicado após a morte no sábado de Walid Yahya, um médico de 32 anos, atingido pelo coronavírus mas que não conseguiu obter cama para internamento num hospital de quarentena.
Em paralelo, a rápida admissão no hospital de Ragaa a-Guiddaoui de uma figura da televisão com a Covid-19 suscitou a indignação de numerosos egípcios, que nas redes sociais denunciaram um tratamento discriminatório.
Segundo o Ministério da Saúde, os 17 hospitais de isolamento atingiram o estado de saturação desde o início de maio, e de momento estão a ser preparados outros estabelecimentos para acolher doentes atingidos pelo novo coronavírus.
Apesar das penúrias nos seus hospitais, as autoridades do Cairo decidiram encaminhar nos últimos meses toneladas de equipamento médico em direção a diversos países ricos, incluindo os Estados Unidos.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de Covid-19 já provocou quase 345 mil mortos e infetou mais de 5,4 milhões de pessoas em 196 países e territórios.