Ruanda está a aumentar o contingente de 2.500 militares que combate os grupos insurgentes em Cabo Delgado, anunciou o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, após uma reunião em Kigali com o seu homólogo ruandês.
“Esta semana está a desembarcar mais contingente, não para trocar [revezar os militares], mas para acrescentar fluxo. E isso sobretudo por causa da saída da SAMIM [missão militar dos países da África Austral], e quando sair definitivamente da zona de Macomia vamos ocupar”, afirmou Filipe Nyusi, em declarações aos jornalistas durante o balanço da visita que realizou até sexta-feira ao Ruanda.
“Não porque Moçambique não pode [assegurar a defesa], mas não se combate terrorismo só. Mas a responsabilidade maior é dos moçambicanos”, enfatizou Nyusi, que também se reuniu em Kigali, nesta visita, com o presidente da TotalEnergies, Patrick Pouyanné.
A petrolífera francesa suspendeu, em 2021, o megaprojeto de gás natural em Palma, Cabo Delgado, avaliado em 20 mil milhões de dólares (cerca de 18,6 mil milhões de euros), devido aos ataques de grupos insurgentes. Filipe Nyusi transmitiu ao líder da TotalEnergies a decisão de reforçar o contingente ruandês, que garante a segurança naquela área, expressando confiança de que o projeto será retomado, ainda que a dúvida seja “quando” e não “se”.
“Ficou completamente seguro que o Ruanda coopera com o país, não coopera com pessoas. E o maior orgulho que nós teríamos era deixar as coisas bem feitas para ter a sua continuidade”, disse ainda Filipe Nyusi, referindo-se ao ciclo eleitoral de Moçambique, com eleições gerais, incluindo presidenciais, marcadas para 9 de outubro, nas quais o atual chefe de Estado não pode concorrer por ter atingido o limite de dois mandatos.
Desde outubro de 2017, Cabo Delgado enfrenta uma rebelião armada com ataques reivindicados por movimentos associados ao grupo extremista Estado Islâmico. Desde 2021, os militares do Ruanda e dos países da África Austral têm apoiado Moçambique no combate a esta insurgência. No entanto, a missão militar da África Austral está em processo de retirada, previsto para concluir até julho próximo.
O Ministério da Defesa Nacional de Moçambique confirmou, a 10 de maio, um “ataque terrorista” à vila de Macomia, ocorrido durante a madrugada. Um dos líderes do grupo insurgente foi ferido pelas Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) e outro foi morto.
“O ataque durou cerca de 45 minutos e os terroristas foram prontamente repelidos pela ação coordenada das nossas forças, que obrigaram o inimigo a recuar, em direção ao interior do posto administrativo de Mucojo”, afirmou o ministério em comunicado.
O ataque aconteceu por volta das 04:45 locais (03:45 em Lisboa) e, durante o confronto, as FADM “capturaram um terrorista e feriram um dos líderes, conhecido por ‘Issa’, que conseguiu escapar. Não houve registo de mortos ou feridos por parte das Forças Armadas”, acrescentou o comunicado.
“Posteriormente, o terrorista capturado veio a perder a vida devido aos ferimentos graves”, referia.
Filipe Nyusi já tinha confirmado este ataque à sede distrital de Macomia, explicando que ocorreu numa zona anteriormente controlada pelos militares da missão SAMIM.
“É verdade que é uma zona ocupada pelos nossos irmãos que nos apoiam, em retirada. Mas os que estão no terreno são 100% os moçambicanos. Talvez possa haver um reforço (…). Como estão de saída, espero que consigamos nos organizar melhor, porque o tempo de transição dá isso”, reconheceu Filipe Nyusi, enaltecendo a intervenção em curso dos militares moçambicanos.