A associação Quebrar o Silêncio, de apoio a homens vítimas de abusos sexuais, ajudou 467 pessoas nos últimos cinco anos, tendo registado um aumento de pedidos de ajuda entre os homens abusados em idade adulta.
A propósito dos cinco anos de existência da associação, o presidente da Quebrar o Silêncio adiantou que têm sido cada vez mais procurados por homens que foram abusados em idade adulta e cujo abuso aconteceu nos doze meses antes do pedido de ajuda.
Segundo o responsável, estes casos são ainda residuais, tanto que no ano passado foram apenas cinco no total, entre 184 pedidos de ajuda feitos à associação, e são casos que acontecem sobretudo em contexto de relações de intimidade.
Um outro problema relativo a estes casos tem a ver com o prazo de prescrição dos crimes, uma vez que, ao contrário dos abusos sexuais contra crianças, em que a prescrição acontece cinco anos depois de a vítima completar 18 anos, no caso dos homens adultos a prescrição ocorre ao fim de seis meses.
Defendeu, por isso, que seja aumentado o prazo de prescrição no Código Penal, de modo a ir ao encontro das necessidades das vítimas e do tempo que precisam para denunciar este tipo de crime, defendendo mesmo que o ideal seria que estes crimes nunca prescrevessem, tendo em conta “o potencial traumático enorme”.
Alertou também para o impacto que esta situação pode ter nas vítimas, desde logo criando um “grande sentimento de frustração e de impotência”, tendo em conta que quando ganham coragem para fazer a denúncia são impedidos de o fazer porque o crime prescreveu.
Apontou igualmente que em muitos destes casos, os homens pretendem fazer a denúncia não para fazer justiça pelo seu caso em particular, mas sobretudo para que o agressor não volte a abusar de mais ninguém.
Por outro lado, o presidente da Quebrar o Silêncio aproveitou para chamar a atenção para o impacto da pandemia, salientando que “trouxe ao de cima muitas situações do passado que muitos homens achavam que estavam esquecidas”, tendo em conta que usam frequentemente estratégias para lidar com o impacto traumático do abuso, como dedicar-se mais ao trabalho ou praticar atividades ao ar livre.
Acrescentou que isso refletiu-se num aumento dos pedidos de apoios feitos à associação em 2020, quando ajudaram 120 homens sobreviventes, número que baixou para 96 em 2021.
No ano passado, no total, a associação recebeu 184 pedidos de apoio, nos quais estão incluídas 18 mulheres sobreviventes, que foram reencaminhadas para outras respostas específicas, e 61 familiares e amigos de vítimas.
No total dos 467 homens e rapazes que procuraram a Quebrar o Silêncio nos cinco anos de existência da associação — uma média de 94 por ano — a média de idades situou-se nos 32 anos, prevalecendo o abuso praticando na infância por um membro da família ou pessoa próxima.