Internacional Detidos em Luanda são acusados de ofensas corporais e danos materiais

Detidos em Luanda são acusados de ofensas corporais e danos materiais

Os mais de 100 detidos numa manifestação em Luanda, no sábado (24), são acusados de ofensas corporais e danos materiais, disse à Lusa Helena Victoria Pereira, amiga da ativista Laura Macedo, que está detida.

Helena Victoria Pereira, membro da sociedade civil angolana, falou com um dos advogados que representa Laura Macedo e os restantes detidos – que ainda não começaram a ser ouvidos – e adiantou que são alvo de “sete acusações relacionadas com ofensas corporais e crimes de danos materiais e destruição de bens”.

Segundo disse à Lusa, estão em causa danos numa viatura, queima de uma tenda fiscal e duas motorizadas que terão ficado danificadas.

Helena Pereira relatou que o dia foi ocupado, no Tribunal Provincial de Luanda, a discutir questões prévias, não tendo sido iniciada a audição dos arguidos.

“Foram discutidas questões prévias entre os advogados e o juiz, relacionadas com pressupostos legais e condições humanitárias nas cadeias, pelo que não houve inquirições”, referiu.

As audiências, suspensas hoje já perto das 20:00, deverão ser retomadas na terça-feira pelas 09:00.

“Se forem ultrapassadas as questões prévias, serão ouvidos os arguidos e os declarantes”, que incluem seis polícias feridos, adiantou.

Entre os mais de 100 detidos estão jovens de movimentos cívicos, ativistas e outros manifestantes. Houve também seis jornalistas detidos, três dos quais libertados apenas hoje e sem explicações.

A tentativa de uma manifestação organizada por jovens da sociedade civil, com apoio de dirigentes do maior partido da oposição angolana – União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) -, foi frustrada pelas autoridades, tendo resultado em 103 detenções, ferimentos de polícias, e de manifestantes em números não revelados, além da destruição de meios das forças da ordem.

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Os protestos ficaram marcados também pelo arremessar de pedras, colocação de barricadas na estrada com contentores de lixo e pneus a arder pelos manifestantes.

A marcha, convocada por ativistas da sociedade civil, contou com a adesão da UNITA e outras forças da oposição e visava reivindicar melhores condições de vida, mais emprego e a realização das primeiras eleições autárquicas em Angola.

De acordo com o secretário de Estado do Ministério do Interior, Salvador Rodrigues, que negou a existência de qualquer morte resultante do evento, estão detidos 90 homens e 13 mulheres e seis polícias ficaram feridos nos confrontos com manifestantes.

Na sexta-feira, o Governo angolano fez sair novas medidas de combate e prevenção da covid-19, num decreto sobre o Estado de Calamidade Pública, que entre várias restrições, proibiu ajuntamentos na rua de mais de cinco pessoas.

A chegada dos detidos ao Tribunal Provincial de Luanda foi recebido aos gritos de “Liberdade, Já” por várias dezenas de jovens que se concentraram frente ao edifício durante todo o dia e só desmobilizaram ao início da noite, protagonizando alguns momentos de tensão com a polícia.