Politica PGR abdica de recursos para tentar acelerar extradição de ex-ministro

PGR abdica de recursos para tentar acelerar extradição de ex-ministro

A Procuradoria-Geral da República (PGR) moçambicana anunciou na segunda-feira (10) que abdicou dos recursos judiciais na África do Sul referentes à extradição do ex-ministro das Finanças Manuel Chang para tentar acelerar a decisão final.

“A PGR instruiu os advogados para retirarem os dois pedidos pendentes nos tribunais sul-africanos”, refere em comunicado a PGR.

O ex-ministro é arguido numa investigação judicial de Moçambique no quadro das dívidas ocultas do país, mas decorre na África do Sul dois pedidos de extradição em paralelo, um de Maputo e outro dos Estados Unidos. Washington já julgou um processo referente às dívidas ocultas e absolveu o principal suspeito, o empresário Jean Boustani, foi absolvido dos crimes de fraude e lavagem de dinheiro no processo, por falta de jurisdição dos tribunais norte-americanos. Ora, perante esta decisão, Moçambique acredita ter ficado demonstrado que é a jurisdição adequada para julgar Chang.

No comunicado desta segunda-feira, a PGR moçambicana refere que, “face aos desafios jurisdicionais enfrentados pelos EUA no processo contra Jean Boustani que culminou com a sua absolvição, a Procuradoria-Geral da República vê reforçado o seu entendimento de estar em melhor posição para responsabilizar Manuel Chang”. Assim, a PGR espera que “a retirada dos dois recursos”, esta segunda-feira anunciada, “concorra para acelerar o desfecho do caso e que os fundamentos adicionais apresentados, pelos canais apropriados, apoiem ao Ministro da Justiça [sul-africano] na reanálise do pedido” de extradição.

Os Estados Unidos da América foram os primeiros a pedir a extradição de Chang, mas as autoridades sul-africanas ainda não decidiram, um ano depois de o manterem detido. Um ministro da Justiça chegou a decidir a favor de Moçambique em detrimento dos EUA, mas o titular do cargo no novo Governo, empossado em 2019, discordou, o que levou aos recursos moçambicanos, que aguardavam decisões judiciais.

À margem do caso das dívidas ocultas, Moçambique admite que a decisão de retirar os pedidos de recurso tenha “impacto negativo” para a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) “em matéria de extradição, quando existam pedidos concorrentes”. “Tratando-se do primeiro caso [do género], esperava-se que a decisão sobre estes recursos fixassem jurisprudência para casos futuros”, nota a PGR. Por outro lado, Moçambique entende também que deve ser contestada a interpretação feita pela África do Sul sobre a imunidade de suspeitos no âmbito do Protocolo da SADC sobre Extradição, pelo que “submeterá as constatações sobre a matéria às autoridades competentes para os devidos efeitos” junto daquela comunidade subrregional.

Manuel Chang é acusado de ter avalizado ilegalmente dívidas ocultas do Estado moçambicano de 2,2 mil milhões de dólares contraídas em 2013 e 2014 – em forma de crédito junto das filiais britânicas dos bancos de investimentos Credit Suisse e VTB pelas empresas estatais moçambicanas Proindicus, Ematum e MAM. O caso foi revelado em 2016, acentuou uma crise financeira que levou Moçambique a entrar em incumprimento no pagamento aos credores internacionais (default) e ao consequente afastamento dos mercados financeiros internacionais, classificação da qual só começou a libertar-se no final de 2019, após renegociação da dívida soberana.