Sociedade Guebuza mencionado em tribunal nos EUA por conversas com Jean Boustani

Guebuza mencionado em tribunal nos EUA por conversas com Jean Boustani

Designado, nas conversas interceptadas pelos americanos, como AG ou HoS (Head of State – Chefe de Estado em Português), o nome do antigo Presidente da República, Armando Guebuza, foi mencionado, pela primeira vez, em sede do julgamento em curso no Tribunal Distrital de Brooklyn.

A menção surgiu em resultado de terem sido apresentadas evidências, concretamente e-mails trocados entre Jean Boustani e Guebuza. As conversas encriptadas e expostas são referentes ao período de 2015 a 2016.

FBI significa Federal Bureau of Investigation, em inglês, ou Departamento Federal de Investigação, em português. É uma unidade de polícia do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, que serve tanto como uma polícia de investigação quanto serviço de inteligência interno.

Às 10h29 do dia 23 de Abril de 2016, Jean Bostani enviou um link ao antigo Presidente moçambicano com o seguinte teor “Bom dia Papa”.
Trata-se de uma evidência que mostra que as duas “figuras” mantinham contacto mesmo depois de Guebuza deixar o Governo. Outra conversa encontrada pelo FBI dá conta de uma mensagem de texto enviada por Jean Boustani a Armando Guebuza, para o contacto +258 823 010 770, informando sobre um encontro entre o primeiro-ministro, Carlos Agostinho do Rosário, acompanhado por António Carlos do Rosário (antigo PCA da Ematum, ProÍndicus e MAM) e Isaltina Lucas. Esta era, à data da contratação das “dívidas ocultas”, directora nacional do Tesouro.

Foi praticamente na mesma altura que decorriam as negociações para a reestruturação dos títulos das dívidas. Títulos esses que, de acordo com a acusação dos EUA, foram vendidos fraudulentamente a investidores americanos, usando moeda e bancos dos Estados Unidos.

A veracidade das provas foi testemunhada por Fátima Haque, uma agente especial do FBI, e que trabalhou na investigação que tem Jean Boustani como réu. Haque é agente do FBI, há cinco anos. Há dois anos que ela tem a categoria de agente especial, responsável por investigar crimes federais.

Os “nicknames” e as evidências de subornos

Na audição desta quarta-feira, o Ministério Público americano fez o resumo das evidências apresentadas sobre os subornos pagos pela Privinvest a moçambicanos para facilitar a aprovação dos projectos que resultaram na contratação das dívidas ocultas de 2.2 biliões de dólares americanos. As provas que estão na posse dos americanos demonstram, em primeiro lugar, pagamentos aos antigos banqueiros do Credit Suisse, Andrew Pearse, no valor de 45 milhões de dólares, e Surjan Singh, no valor de 37 milhões de dólares.

Quanto aos pagamentos a moçambicanos, acusados pelo Grande Júri do Tribunal de Brooklyn, no rol das evidências consta, em primeiro lugar, um e-mail de Jean Boustani enviado a Teófilo Nhangumele com a lista das pessoas que deviam ser pagas. Os beneficiários não são identificados pelos seus nomes completos. O e-mail de Boustani, quem ordenou os pagamentos, fala de 125 milhões de dólares que tinham sido preparados para pagamentos aos “facilitadores” moçambicanos.

Outro montante, estimado em 60 milhões de dólares deveria ser destinado a A, Armando Ndambi Guebuza, também identificado no processo como ArGE ou Júnior.

Teofilo Nhangumele é identificado pelos parceiros nas conversas como Teo ou Nguila Guidema. Terá recebido 8,5 milhões de dólares pelo seu papel de facilitador do contacto entre a Privinvest e os governantes moçambicanos, para as primeiras negociações sobre os projectos.

Bruno Langa terá, igualmente, recebido 8,5 milhões de dólares.

Identificado nas conversas interceptadas como Chopstick ou Pantero, o antigo-ministro das Finanças, Manuel Chang, recebeu, de acordo com as provas apresentadas no tribunal, 12 milhões de dólares, em duas tranches de sete e cinco milhões.

Três beijos, Isalt, Esalt e Esaltina eram os “nicknames” de Elsatina Lucas, antiga directora nacional do Tesouro e antiga vice-ministra das Finanças, que terá recebido pouco mais de 2 milhões de dólares.

António Carlos do Rosário era tinha Ros e Marshall como suas alcunhas dentro do esquema. Recebeu, de acordo com os americanos, 12.3 milhões de dólares.

DG (Director Geral) era o “nickname” de Gregório Leão, o antigo Director Geral do SISE terá recebido 13 milhões.

A figura cuja identidade e valor que terá recebido continuam uma incógnita é o designado new man. Aparece nas conversas com os “nicknames” “Nuy, New Gay, New Man e Nys”.

Ainda ontem foram ouvidas duas testemunhas chamadas pela defesa de Jean Boustani, na tentativa de enfraquecer as revelações feitas.

O País