Sociedade Tete: Desconhecidos exumam corpos de nove crianças e um adulto

Tete: Desconhecidos exumam corpos de nove crianças e um adulto

Desconhecidos, ainda a monte, vandalizaram campas e exumaram nove corpos de crianças e de um adulto, no cemitério tradicional de Chimadzi, arredores da cidade de Tete, uma situação que foi despoletada no sábado pela família de um dos menores sepultado na sexta-feira, quando pretendia fazer limpeza e posterior rega de flores.

Os corpos humanos são exumados para a extracção de órgãos genitais, olhos, dentes, cabelos, unhas, nariz e ossos, que são entregues aos curandeiros, que os recomendam para fazer tratamento a quem deseje enriquecer-se rapidamente, uma situação que ocorre com muita frequência em Tete, província tida como supersticiosa.

Imediatamente, o caso foi comunicado à Polícia da República de Moçambique (PRM), mais precisamente à 1ª Esquadra, que para as investigações deteve um dos coveiros identificado por João Tenguene Buino, 47 anos, estando este a ver o sol aos quadradinhos, enquanto decorre o processo da legalização da sua detenção e passos subsequentes.

As autoridades policiais, na pessoa da porta-voz Lurdes Ferreira, contactada por jornalistas, garantiram que se vão pronunciar oportunamente sobre o caso, que está a causar indignação a todo o mundo, dado que a situação atingiu níveis alarmantes ao ponto de serem vandalizadas dez campas e exumado igual número de corpos em pouco tempo.

A situação está a agitar os residentes do bairro Mateus Sansão Mutemba, onde está inserida a unidade comunal de Chimadzi, com um cemitério tradicional que serve aos habitantes locais, disse o respectivo secretário, Francisco Gerente, quando abordado pela nossa Reportagem.

“Não sabemos como é que as pessoas têm esta coragem de vandalizar as campas onde foram sepultados os nossos entes queridos. É uma situação muito preocupante. Pedimos que as pessoas envolvidas sejam punidas severamente, para desencorajar os outros com esta intenção” – sugeriu Gerente.

O secretário do referido bairro afirmou que os coveiros têm a sua quota-parte na vandalização das campas e posterior exumação de corpos para a extracção de órgãos humanos para o tratamento por curandeiros, os principais promotores da situação, porque fazem promessas aos cidadãos que lhes contactam para o seu enriquecimento rápido.

Luís Machaia, secretário da unidade comunal de Chimadzi, que confirmou o caso, explicou que as pessoas foram confrontadas com a situação com muita tristeza e ao mesmo tempo indignação.

“As campas foram vandalizadas para a retirada dos corpos. Ainda não foram descobertos os que fizeram isso, mas uma família que perdeu o corpo nesta situação foi queixar à Polícia, que veio deter um dos coveiros. É mais conhecido por coveiro João. Os coveiros é que facilitam a vandalização das campas, porque conhecem os corpos que acabam de ser sepultados e o tipo de pessoas. Por isso, a PRM levou ele para as investigações” – explicou.

Machaia disse que os familiares do corpo da criança exumado na noite de sexta-feira, visivelmente chocados pela situação, decidiram queimar no sábado o caixão que foi abandonado à beira da entrada do cemitério, visto que tentaram procurar os restos mortais no local sem sucesso.

“Este é o primeiro caso em que desconhecidos exumam corpos de muita gente. Nunca aconteceu aqui no nosso cemitério. Normalmente tem havido um caso. Por exemplo, no ano passado foi violada uma campa de um albino, para a extracção de ossos” – afirmou.

“Não registámos os nomes das famílias que perderam os corpos de seus parentes. Vai ser um trabalho a posterior, porque neste momento estamos interessados em descobrir quem são as pessoas que vandalizam as campas” – disse Luís Machaia.

Note-se que a província de Tete foi “fustigada” em 2016 com a onda de raptos e assassinatos de pessoas com problema de pigmentação da pele, conhecidas por albinos, tendo os casos ocorrido nos distritos de Cahora Bassa, Marara, Changara, Angónia e Moatize.

Na cidade de Tete também se registou um caso de exumação do corpo de um albino adulto. Ainda em 2016, nove pessoas, incluindo alguns funcionários públicos foram encontrados na posse de ossadas humanas de um albino que foram exumadas num dos cemitérios de Chemba, na província de Sofala.

Seis dos envolvidos no negócio de ossadas humanas estão a cumprir penas de prisão maior, na sequência da sentença do Tribunal Judicial Provincial de Tete.

Diário de Moçambique