Destaque Um emprego que se confunde com escravatura

Um emprego que se confunde com escravatura

Muitos vendedores de  “King Pie” no país podem ver o seu salário reduzido para 500 MT, caso não consigam vender o produto.

Essa é a dura verdade dos vendedores ambulantes da King Pie em Moçambique.

Um emprego que se confunde com escravatura, pois não podem regressar ao posto caso os hamburgers não estejam totalmente vendidos, contra o risco de ver o seu salário cortado no final do mês.

Celestino Tembe é trabalhador do King Pie, uma empresa de confecção e pastelaria. O seu trabalho consiste na venda dos produtos da empresa, empurrando a carrinha de mão do King Pie pelas artérias da cidade de Maputo.

Para a sua jornada de trabalho, Celestino levanta-se as 5h30min da manhã para de seguida tomar rapidamente o chapa em direcção ao seu serviço, onde chega por volta das 6h30min.

Pega na sua carrinha para iniciar com as suas actividades de venda dos produtos do King Pie, deambulando pelas artérias da cidade em busca de clientes. Quando são 12h30min, Celestino, mesmo com fome, cansado e vendendo produtos comestíveis, não tem direito a almoço por parte da empresa e deve continuar a trabalhar de estômago vazio, se não quiser pagar o almoço do seu bolso.

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Não obstante, Celestino não conhece o seu horário de trabalho, somente sabe a que horas sai de casa para o trabalho, sem saber exactamente a hora do seu regresso, porque é obrigado a vender o produto até acabar. Caso não acabe, Celestino é obrigado a assinar o livro de descontos e levar consigo o produto para casa.

É por esta razão que Celestino termina o trabalho a meia noite e normalmente chega a casa a 1 hora da madrugada, para fazer um banho relaxante, tomar o seu jantar e deitar-se as 2 horas da madrugada, para voltar a acordar as 5h30min para mais uma jornada de trabalho.

Por sua vez, Jerónimo Luís de 23 anos de idade veio à cidade das acácias para conseguir um trabalho.

Trabalha no king pie há cerca de seis meses e considera o emprego mias um “biscato” do que propriamente um posto de trabalho pois não vê cumpridas as obrigações regidas e exigidas pela lei de trabalho.

Jerónimo tem uma esposa e uma filha e vive de aluguer. Tem necessidades que dependem dos pacatos 2.800 meticais, mas caso as vendas não prosperem podem reduzir-se a menos de 500 meticais, sem contar que mesmo o ingresso naquele posto de trabalho é marcado primeiro por um estágio no período de 30 dias não remuneráveis.

cada trabalhador deve atingir uma meta que se resume na venda de 30 pies. O facto é que de 30 pies diários os vendedores marcam 180 meticais diários caso acabem e se não acabarem o prejuízo é completamente do trabalhador.

Questionado acerca da assistência médica, acidente de trabalho uma vez que usam gás doméstico e as gripes em tempo chuvoso, Jerónimo respondeu “não fomos informados nada disso apenas temos o cartão de saúde para casos de inspecção”.

Refira-se que os atropelos chegam até ao consumidor na medida em que não são verificadas com rigor as práticas de saúde e higiene alimentar naqueles carrinhos e nas pessoas que vendem.

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