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Um coveiro aufere, no máximo, 3000 meticais e abre uma média de quatro covas por dia. Trabalha mais de oito horas e usa o mesmo fardamento durante muitos anos.
Tem uma expressão vincada e pertence à primeira geração de coveiros do pós-independência, um grupo de moçambicanos sem escolaridade que não teve outra opção a não ser trabalhar dentro dos limites do cemitério.
Houve muitos que desistiram pelo caminho, sem estômago para a função, pelo salário de miséria, não se importando de ficar sem fazer nada.
Nelson Pedro de 55 anos de idade, era muito jovem quando começou a trabalhar no Cemitério de Lhanguene e foi na altura da independência. Mas, passados 15 anos, continua a ser um cidadão pobre, com emprego, mas sem presente.
Antigamente trocavam os fardamentos em cada seis meses. Mas, de há algum tempo a esta parte, o cenário é outro, não trocam o uniforme.
“O fardamento que usamos para fazer os enterros de pessoas singulares é o mesmo que voltamos a vestir para o descarregamento de corpos na vala comum”. No entanto, “em condições normais devíamos mudar de fardamento o que não acontece”, desabafou.
Pedro aprendeu o ofício praticando. No início foi duro: “era complicado trabalhar com a dor dos outros”. Porém, “aos poucos meti na cabeça que aquilo não passava do meu ganha-pão. A vida é assim mesmo. Isso é como fabricar caixões ou ser médico. Aprendes a deixar de lado qualquer tipo de sentimento. Até porque na minha casa todos contavam comigo”.
Hoje, orgulha-se de ter exercido essa função com brilho e constituído a sua própria família. “Apesar de receber muito pouco consigo alimentar e mandar os meus filhos à escola”, disse.
O salário não ajuda…
Os coveiros dizem que o salário que auferem não passa de umas “migalhas” desajustadas do actual custo de vida.
“Aqui não temos limites de aberturas das covas. Trabalhamos sim mas o salário não compensa e o mais doloroso é que a Polícia Municipal vem nos roubar o pouco dinheiro que fazemos pela abertura das covas.
Eles deixam aqueles jovens que vêm roubar no cemitério, destruindo as campas e lutam contra nós os coveiros.
Por exemplo, segundo Pedro, a administradora havia dito que como o salario não compensava o valor da abertura das campas seria para eles mas o que acontece é que a policia vem se apoderar do mesmo valor que consegue
Segundo ele, por vezes chega um familiar e pede aos coveiros para que cuidem das campas quando são pagos, a polícia diz que estes devem ir entregar o valor na administração ou pagar um valor de pedido de autorização para cuidar da campa.
No seu entender, em primeiro lugar, “deve-se respeitar os mortos. Não é ético destruir campas alheias para fazer a manutenção de outras. Há muitas pessoas que ficam a querer levar o nosso dinheiro e nós assim trabalhamos para os outros”, contou.
A desordem é total…
O Cemitério de Lhanguene que como qualquer outro se supõe que seja um lugar de veneração aos mortos e onde haja respeito, já deixou de o ser.
Já deixou de constituir um lugar sagrado. Os “trabalhadores” transformaram o cemitério de Lhanguene num lugar público de diversão e não respeitam as campas, alguns usam como mesa de jogo de xadrez.
Agora, até quem reside dentro do recinto do cemitério e pessoas tidas como oriundas da periferia da cidade, são acusadas de desrespeito pelos actos fúnebres e de profanarem campas.
Os familiares de quem ali está sepultado queixam-se de haver munícipes que usam aquele cemitério como “um local de baile” e de estarem a “danificar as campas”.
Os munícipes transformaram o cemitério num parque de diversão e não têm respeito por nada. Já não consideram este lugar como um lugar digno”.
Agora, tudo está a cargo do familiar que quiser cimentar a campa do seu ente-querido e, sendo assim, esses familiares contactam os trabalhadores para efectuarem os trabalhos.