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FADM e FIR cercam serra da Gorongosa e Renamo ameaça reactivar as suas forças

A Renamo, devido alegadamente à desonestidade do Governo, ameaça reactivar as suas forças militares em todas as regiões do país e, consequentemente, romper a trégua que unilateralmente havia decretado há quase cinco meses.

O porta-voz do presidente da Renamo, António Muchanga, convocou a imprensa na última sexta-feira, em Maputo, para informar que, face à concentração de tropas governamentais na Gorongosa, “com o objectivo de aniquilar o presidente Dhlakama, não resta mais nada aos comandantes das outras regiões senão activar as forças nos outros cantos do país”.

Por outro lado, a Renamo acusa o Governo de estar a pretender a todo o custo impedir o recenseamento eleitoral de Afonso Dhlakama, visando inviabilizar a sua participação nas eleições legislativas, presidenciais e provinciais, previstas para 15 de Outubro próximo.

Até sexta-feira, as brigadas de recenseamento ainda não tinham conseguido chegar às zonas de conflito da Gorongosa, onde se pensa que se encontra refugiado o líder da Renamo.

Dhlakama está a ser perseguido pelas forcas governamentais, desde 21 de Outubro do ano passado, quando estas tomaram de assalto a sua residência em Sandjundjira, com o intuito de o assassinar, numa operação que resultou no aniquilamento do deputado da Assembleia da República Armindo Milaco e no saqueamento de diversos bens materiais.

Embora o Governo e a Renamo, que estão actualmente em negociações, tenham chegado a um entendimento na semana passada, para que o recenseamento abrangesse as regiões em conflito na Gorongosa, o porta-voz António Muchanga acusou o executivo de Armando Guebuza de estar a impedir a entrada dos brigadistas do STAE, numa atitude que classificou como sendo de “falta de seriedade”.

Afirmou que o Governo pretender inviabilizar o recenseamento de Dhlakama, como forma de este não participar nas eleições e como manobra para favorecer o candidato da Frelimo, Filipe Nyusi. O candidato da Frelimo, ex-ministro da Defesa Nacional, já está em campanha eleitoral, tendo até agora visitado as províncias de Niassa, Cabo Delgado, Nampula, Zambézia, Gaza e Inhambane.

Irresponsabilidade do Governo

António Muchanga acrescentou que a Renamo não pode continuar passiva perante o que apelidou de “atitude irresponsável do presidente Guebuza”.

“Queremos denunciar a manobra dilatória do presidente Guebuza que, dum lado anda a gritar apelando à paz, e, do outro lado manda concentrar tropas na zona da Gorongosa com o objectivo único de aniquilar fisicamente o presidente Afonso Dhlakama”, disse Muchanga.

Para a Renamo, esta atitude de Guebuza não só inquieta o povo, mas também perturba o processo de recenseamento eleitoral nos postos administrativos de Canda e Vunduzi, “pois as tropas no terreno dizem claramente que a missão deles é mesmo evitar ou travar o recenseamento do presidente Dhlakama, de forma a facilitar a vitória do candidato da Frelimo”.

A Renamo diz que “há dez dias que se regista muita concentração de tropas da FIR/FADM na Gorongosa, transportadas de várias províncias em camiões e autocarros, que saem de Maputo e Nampula”.

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“Neste momento, há novas posições e reforços de efectivos em outras zonas, tais como no cruzamento de Kuzi, Nhamadjudjudju, Mussikazi II, Nhadue, cruzamento de Phiro e aeródromo da Gorongosa”, explicou Muchanga, acrescentando que “o próprio estado-maior, que funcionava no Dondo desde que o conflito começou, foi transferido para a Gorongosa; o comando operacional, que funcionava a partir de Chimoio, também foi transferido para a Gorongosa no último dia de Abril”.

Segundo Muchanga, “essas movimentações visam aproximar os militares do alvo que é o presidente Dhlakama, e isso vai pôr em causa todos os ganhos até aqui conseguidos a nível do diálogo, porque há uma demonstração inequívoca do presidente Guebuza de conseguir uma solução militar à semelhança de Angola”.

A Renamo diz que o Governo aproveitou-se da boa vontade do seu líder Dhlakama, que decretou o cessar-fogo naquelas zonas de forma a permitir que as brigadas de recenseamento fossem ao terreno cumprir a sua missão.

“E porque estamos nesta situação, não resta mais nada aos comandantes das outras regiões, senão activar as forças nos outros cantos do país, porque falta seriedade do outro lado, e não se pode continuar passivo perante esta atitude irresponsável do presidente Guebuza, mesmo sem a concordância do presidente Dhlakama”, declarou.

O segundo maior partido da oposição considera que a mudança do diálogo para um ritmo de apenas uma vez por semana, ou seja, o retorno dos contactos apenas às segundas-feiras, também demonstra que a delegação do Governo quer dar tempo à solução militar decidida pelo presidente Guebuza.

“Apelamos às forças vivas da sociedade moçambicana e à comunidade internacional que percebam que quem põe a paz em causa é o presidente Guebuza, devido às suas manobras dilatórias, falta de seriedade e de vontade política de pacificar o país, mesmo quando o povo clama por este bem precioso”, alertou.

A terminar, afirmou: “Se a 21 de Outubro [Guebuza] tentou negar a autoria dos ataques, esperamos que, desta vez, assuma as suas responsabilidades publicamente, porque não é agindo de forma cobarde que se ganha a simpatia popular”.

“Condenamos energicamente as manobras do presidente Guebuza e do seu Governo, que pretendem a todo o custo pôr o presidente Dhlakama fora do processo eleitoral, usando a intimidação dos brigadistas e dos órgãos eleitorais na Gorongosa e em Sofala”, concluiu.

Em princípio, as partes voltam na segunda-feira para mais uma ronda negocial, aqui na capital do país, para tentarem desbloquear o impasse em torno da conclusão dos Termos de Referência para a missão dos observadores internacionais, que perdura há seis rondas, devido à radicalização de posições dos beligerantes.