Economia Comercio Pintar Unhas: Um negócio que sustenta muitas famílias

Pintar Unhas: Um negócio que sustenta muitas famílias

Comerciantes informais provenientes de diversos pontos do país acreditam que a cidade de Maputo, capital moçambicana, constitui um mercado favorável tanto para a geração de lucro nos seus negócios, bem como para criar poupança necessária para alimentar o sonho de um futuro sorridente na sua terra natal.

A maioria dos informais, por sinal do sexo masculino, entrevistados pela equipe de reportagem do MMO, são provenientes das regiões centro e norte do país, que afirmam terem largado os seus estudos ou abandonado as suas famílias para se deslocarem a Maputo, onde praticam o negócio informal há vários anos.

Muitos deles se concentram diariamente desde as primeiras horas da manhã até ao fim do dia num exercício de caça ao cliente, e cujo objectivo é a liquidação das suas mercadorias e, naturalmente, geração de renda para manter o negócio e a materialização dos seus sonhos antes de deixarem as suas zonas de origem.

O MMO  entrevistou jovens que são “envernizadores de unhas”  e todos já não pensam em regressar às suas zonas de origem pois, agora, a sua ambição é adquirir um terreno na capital do país, para erguer a sua própria residência e, naturalmente, praticar o comércio para sustentar a família.

Um dos comerciantes informais interpelados pela reportagem do MMO é natural de Manjacaze, província de Gaza e exerce a actividade há três anos no mercado Xiquelene.

Calisto Cambaco, de 20 anos de idade, sobrevive na base de envernizar unhas e diariamente consegue no mínimo 300 meticais e aos finais de semana faz ate 1000 meticais, que é o período de maior procura desta actividade.

“Eu vim para Maputo em 2012, pois o meu avó já não tinha condições para que eu continuasse com os meus estudos. Mas não me arrependo, pois aqui em Maputo a pessoa consegue  o mínimo para sobreviver” disse.

Para Cambaco pintar unhas com um verniz simples custa 15 meticais, fazer desenhos nas unhas esta 35 meticais, e colocar unhas artificiais custa 150 a 250 meticais dependendo do tipo de unhas que a cliente quiser.

“Com o dinheiro que ganho consigo mandar para o meu avó que está em Manjacaze e para a minha mãe e ainda sobra para pagar a renda que são 800 meticais e satisfazer os meus caprichos “, acrescentou.

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É um negócio rentável…

Maior parte dos nossos entrevistados foram unânimes em afirmar que este é um negócio rentável, pois estes conseguem sustentar as suas famílias e satisfazer  as suas necessidades.

 Com uma paleta recheada de frasquinhos de verniz vão  pintando as mãos e os pés das vaidosas senhoras e meninas de Maputo.

 No fim do mês chegam a trazer para casa cerca de seis mil (6.000) a nove mil ( 9.000) meticais.

Faça  chuva, ou sol estes não arredam o pé, buscando o garante de sobrevivência das suas famílias.

O negócio destes jovens é tão simples como isto: compram um frasco de verniz por 15 meticais e com ele pinta as unhas de cerca de 10 pessoas. A cada uma cobram 15 meticais.

Com o seu material de trabalho  50 frascos de diferentes cores e conteúdos, desde vernizes a bases propositadamente acondicionados numa tábua com furos que os prendem os  os jovens ficam no mercado de Xiquelene a pintarem as unhas.

Hélio Manuel, de 20 anos de idade, é um jovem que abandonou as suas origens na ilusão do sonho dourado na cidade das acácias.

Manuel, natural da cidade da Beira, província de Sofala, encontra-se a residir no bairro Ferroviário há dois anos com dois irmãos mais novos e afirma que entre a escola e o negócio informal decidiu-se pelo trabalho tendo optado por pintar unhas no mercado de Xiquelene.

 Manuel afirma que, por um lado que decidiu enveredar pelo negócio ao invés de estudar porque estudar não lhe vai valer em nada devido a dificuldade para encontrar um bom emprego.

“Eu não pretendo voltar a escola porque  não me vai valer em nada,  tanto que tenho um irmão que fez nível superior mas não tem emprego. Imagine eu, por isso nem vou me preocupar mais com a escola”, referiu.

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A maioria vive em espaços arrendados, pagando uma renda mensal que varia de  800  a 1.000 meticais.

Gil Nomeado, 19 anos  de idade natural da província de Inhambane, arrenda uma casa no bairro Ferroviário, em Maputo e é envernizador de unhas desde o ano passado.

Nomeado alega ter abandonado os estudos devido à falta de condições financeiras para suportar os custos da sua educação e a sua família nunca lhe incentivou a continuar com  a formação escolar.

É graças a este negócio de pintar unhas  que consegue pagar a renda do espaço onde vive e suportar outras despesas de casa.

“Eu consigo por dia cerca de 300 meticais e quando há muito movimento faz mesmo 1000 meticais e no final do mês mando uma parte para a minha esposa e para o meu filho menor que se encontra na minha terra natal”, contou a fonte.

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Por seu turno, Argentino Bento de 22 anos de idade, disse que há quatro anos que pratica este negócio.

A fonte disse que por dia consegue o valor na ordem de 500  meticais.

Bento deixou de estudar, em 2012 na 7ª classe. Este vivia com os seus tios no bairro da Machava, e deixou de estudar quando os seus tios se separaram  e depois disso não teve como pois quem pagava a sua escola era a sua tia.

 “Por isso, arranjei esse negócio de pintar unhas no ano passado e neste momento estou a arrendar uma casa que pago 850 meticais”, explicou.

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Surgimento e evolução

Historiadores atestam que terá sido por volta de 1925 que o primeiro esmalte de unhas – como o conhecemos hoje – foi lançado. Todavia, o culto da beleza das unhas vem da antiguidade.

No antigo Egipto já existia o costume de pintar as unhas e os dedos. Porém, um tipo de esmalte, o mais parecido com o actual, foi criado na China no século III a. C. Era feito com goma-arábica, clara de ovo, gelatina e cera de abelha, formando uma resina natural, dissolvida em óleo.

De secagem lenta, após a evaporação, a película absorvia a poeira e era retirada com facilidade. No início era utilizada somente a cor preta, que depois foi ganhando um tom mais claro, até chegar às variações de castanho.

Posteriormente veio o vermelho e os tons metálicos. Os reis pintavam as suas unhas como sinal de nobreza, sempre com as cores vermelhas e preta. Depois foram substituídas pelo dourado e prateado. No Império Romano passou-se a valorizar o polimento das unhas que em geral era feito com materiais abrasivos.

Alguns registos históricos mostram que no antigo império chinês as mulheres já eram adeptas de uma forma de esmalte. Nesse caso, as mulheres utilizavam uma mistura de clara de ovo, cera de abelha, gelatina e pétalas de flores.