Politica Alice Mabota: “Eu quero chegar à Ponta Vermelha”

Alice Mabota: “Eu quero chegar à Ponta Vermelha”

A presidente da Liga Moçambicana dos Direitos Humanos (LDH) disse que a decisão final está dependente do apoio financeiro dos moçambicanos para suportar a logística eleitoral. Como uma das vozes mais críticas da governação do Presidente Armando Guebuza, Alice Mabota voltou a apontar o dedo aos principais problemas do país. Desde a falta de abertura ao diálogo por parte de Chefe de Estado, o medo de enfrentar o poder político e económico por parte do procurador-geral da República, ao “trato difícil” do comandante-geral da Polícia. Acompanhe as partes mais significativas da entrevista conduzida por Arsénio Henriques.

Fez duas cartas questionando vários aspectos da governação de Armando Guebuza. Qual era o objectivo central das cartas?

Eu não tinha nenhum objectivo em concreto, como as pessoas pensam. Mas pensei que ele ia ler, pensar e dizer eu sou isto. Aquilo que coloquei no fim, a dizer que o Presidente tem um ano para mudar, é fruto da percepção da população. As pessoas reclamam de tudo, mesmo na televisão a gente vê a população só a reclamar. Eu disse ao Presidente para reunir com a sociedade civil e não, necessariamente, comigo.

E o Presidente reuniu com a sociedade civil?

No dia em que ele reuniu com a sociedade civil, eu não fui. Disse a eles “vão reunir com o Presidente e digam tudo frontalmente”. Eu quando tenho algo para falar com o Presidente, vou até ao seu gabinete.

Considera Armando Guebuza um Presidente aberto ao diálogo?

Não, não o considero. Eu penso que ele cometeu um pecado de se aconselhar erradamente. Há muitas coisas que ele não conhece.

O Presidente sempre reiterou abertura e disponibilidade para dialogar com Afonso Dhlakama em Maputo. Não considera isso abertura ao diálogo?

Não, porque quem considera o diálogo não aceita a luta. O Presidente estaria aberto ao diálogo se dissesse a Dhlakama e às Forças Armadas para pararem os ataques. E, convidar o líder da Renamo a viajar até Maputo para juntos dialogarem. Se, depois do diálogo, Dhlakama julgar que não houve nenhum consenso e, por isso, tem que voltar à mata, que volte!

O Presidente é quem deve parar com os ataques?

Tu não podes dar ordens para atacar e depois afirmares que queres dialogar. Diálogo é dizer que eu não quero mais aquele homem no mato. Mas, para isso, eu não quero ouvir o som das armas. A coisa que mais me magoou foi saber que militares fortemente armados foram vasculhar a casa de um idoso de 80 anos. Nem o colono foi capaz de ir vasculhar as casas dos presidentes Samora, Chissano e Guebuza, porque eles estavam envolvidos na luta armada. Aquilo foi uma coisa horrível e triste. E ainda diz que quer paz com essa pessoa…

Legado de Guebuza

Qual é, para si, o maior legado que Armando Guebuza vai deixar para o país?

Há uma coisa que me preocupava quando o Presidente entrou no poder. Eu tive uma conversa com o Presidente Chissano e ele disse-me o seguinte: “os membros do partido estão dispersos e descontentes. É preciso que Guebuza se reúna com eles.” E, o Presidente Guebuza reuniu com os militantes. Este Presidente encontrou o país em progresso. E ele, de facto, continuou, bem ou mal. Mas não conseguiu fazer tudo que podia. Mas há uma coisa que o manchou: é que os negócios de Moçambique não beneficiam os moçambicanos. Fez presidências abertas, era necessário. Em algumas vezes, pareceu exagerado, mas há aspectos positivos.

Candidatura às eleições

Na sua última aparição, disse que certas pessoas estavam a atacá-la para manchar a sua imagem, uma vez que temem uma provável candidatura. Tenciona concorrer às eleições presidenciais?

Eu disse que temem e é verdade que temem. Penso que as eleições autárquicas assustaram-nos. A marcha que organizamos abriu a mente dos moçambicanos e as coisas azedaram. Agora, perguntam -me isso, querem saber se já pensei em candidatar-me a Presidente da República.